A agonia da Uerj
Na década de 1930, no local do pavilhão principal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), começou a ser construído o Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil. A obra não foi concluída. O esqueleto do hospital foi ocupado logo depois da construção do Maracanã, para a Copa do Mundo de 1950, por famílias de baixa renda. Barracos foram erguidos em palafitas sobre o Rio Joana. Formou-se assim a Favela do Esqueleto, uma das maiores da cidade do Rio de Janeiro.
No início dos anos de 1960, a Favela do Esqueleto foi removida pelo governador Carlos Lacerda. Na mesma conjuntura, foram removidas as comunidades de Maria Angu, na Leopoldina, e do Morro do Pasmado, em Botafogo. Os moradores do Esqueleto, em grande parte, foram expulsos para a Vila Kennedy, em Bangu. No lugar da favela, foi instalado o cam- pus principal da Uerj.
Criada na década de 1950, como Universidade do Distrito Federal, a Uerj foi conhecida também como Universidade do Rio de Janeiro e Universidade da Guanabara. Foi ela a primeira Não há Rio viável sem universidade estadual forte, com a dignidade de seus profissionais e estudantes garantida universidade do Brasil a adotar, em 2006, cotas e ações afirmativas para incluir estudantes da rede pública, negras e negros, indígenas e filhos de agentes de segurança pública, mortos ou incapacitados para o serviço.
De todos os descalabros que tomam conta do Rio de Janeiro, o mais emblemático é o projeto de aniquilamento da Uerj. Mais do que um centro de produção científica e de pensamento de ponta, a Uerj traz um simbolismo que passa pelo passado do local, a Favela do Esqueleto vitimada pela violência da remoção, o pioneirismo das ações afirmativas, o enraizamento em uma zona da cidade fora do cartão -postal, integrada com a universidade, o desenvolvimento de estudos de referência em temas caros ao imaginário afetivo dos cariocas e fluminenses (com estudos de ponta sobre futebol, Carnaval e religiosidades afro-brasileiras, por exemplo). Além disso, falando da minha área, vale ressaltar a excelência do curso de Medicina oferecido pela universidade.
O absurdo atraso no pagamento dos funcionários, professoras e professores, o abandono das instalações da universidade, o descompromisso com a graduação, a pós-graduação e a pesquisa, mostram a total irresponsabilidade dos governos do PMDB em relação ao estado.
Não há Rio de Janeiro viável sem uma universidade estadual forte, com a dignidade de seus profissionais e estudantes garantida. Precisamos da Uerj e lutaremos por ela.