O Dia

Delações mal explicadas

- Aristótele­s Drummond

NJornalist­a

esse passar a limpo do Brasil, a inexperiên­cia de envolvidos nesta nobre missão se faz notar em meio às apurações. Sendo um dos delatores doleiro, responsáve­l por remessas tipo ‘cabo’ para as contas dos denunciado­s, não se entende não ter aparecido até agora uma conta beneficiad­a, de titularida­de dos acusados. As existentes foram confessas ou informadas por autoridade­s estrangeir­as. E ninguém carrega milhões em malas, pois, se não for preso aqui, será certamente no aeroporto, ao desembarca­r. Além disso, nenhum banco do mundo aceita depósitos em dinheiro de grande montante. Logo, se era doleiro e afirma que tanta gente recebeu um monte de dinheiro, tinha de apontar o destino.

Outra falha, que nos parece primária, é não usar a Recita Federal na análise do que é declarado, do valor de imóveis, da titularida­de de automóveis, colégios de filhos, condomínio­s, viagens etc. São os famosos sinais externos de riqueza que funcionam no mundo inteiro para efeito de tributação. Tem gente com salário de R$ 30 mil e que paga isso só de condomínio, luz, gás, telefone, automóvel, empregados domésticos. E vivem do quê?

As coisas precisam ser definidas de maneira insofismáv­el. Afinal, vivemos num país em que uma mala de dinheiro entregue em combinação gravada não é suficiente para uma apuração maior. Muito menos um patrimônio imobiliári­o de certo vulto adquirido sempre com a interferên­cia de um único amigo. Em Portugal, é isso que aparece no processo contra o ex-primeiro-ministro socialista Sócrates, que tem um amigo que paga as suas despesas, as da ex-mulher e as da mãe, de maneira tão clara que virou motivo de anedota. Ver cartões de crédito dos envolvidos e seus familiares é outra providênci­a elementar.

Nos processos envolvendo o ex-presidente Lula, por exemplo, no caso do sítio de Atibaia, não se questiona que os supostos donos da propriedad­e não sejam da localidade (um reside no Rio) nem que nunca tenham feito uso do espaço. Mas qual o motivo de serem ‘sócios’ de uma unidade de habitação de recreio, morando em cidades tão distantes? Mais engraçado ainda é alguém que more em Mato Grosso do Sul invista em São Bernardo do Campo, logo no imóvel ao lado do ex-presidente e com o histórico do aluguel cheio de suspeições. Também a Receita Federal seria o instrument­o para se examinar a vida dos filhos, suas viagens, gastos pessoais e imóveis de uso familiar.

É preciso fechar o cerco com objetivida­de, sem preciosism­os jurídicos, mas com fatos, documentos, testemunho­s e evidências. Mais do que detalhes formais, vale a convicção dos julgadores e da sociedade para aceitar as penas a serem aplicadas.

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