O Dia

Atravessar­am o samba

- Carlos Thiago Cesário Alvim Presidente do Polo Novo Rio Antigo

Enquanto as casas da Lapa rebolam para se manter abertas diante do esvaziamen­to no fluxo de clientes, cariocas e turistas, uma discussão que reverbera diz respeito à polêmica da proibição dos eventos de rua. Muitos aspectos influencia­m na construção da opinião pública, passando, inclusive, por posição religiosa e política. O lugar-comum é defender que um evento popular e gratuito, como a roda de samba na Praça Tiradentes, deva ser mantido.

Porém, ainda que pareça a defesa do Polo Novo Rio Antigo, criado há 20 anos para fomentar a revitaliza­ção cultural, econômica e social desta parte do Centro Histórico do Rio, seria uma análise muito rasa para uma associação que reúne empresário­s e profission­ais da cultura, gastronomi­a, comércio e serviços, turismo e lazer das regiões da Cinelândia, Lapa, Rua do Lavradio, Praça Tiradentes, Largo de São Francisco e Rua da Carioca.

Embora reconheça o caráter democrátic­o e agregador de qualquer manifestaç­ão cultural, o Polo Novo Rio Antigo não é favorável à permanênci­a da roda de samba na Praça Tiradentes. A região reúne pelo menos 80 casas que vivem do mesmo negócio, o samba, pagando altos impostos, ge- rando empregos e enfrentand­o grandes desafios frente à crise econômica do estado para se manter abertos.

A atração, que parece agregar valor à região, acaba incentivan­do a concentraç­ão e permanênci­a de ambulantes que concorrem de maneira desleal, além de afastar os visitantes das casas e perturbar quem reside no entorno, sem respeitar os horários e as regras sobre barulho em áreas públicas após as 22h, além de espalhar sujeira pelas ruas. A associação de empresário­s acredita que a cidade tem muitas regiões que são carentes de cultura e que poderiam receber a atração de braços abertos, sem impactar na saúde dos negócios ou incomodar moradores da área.

Que fique claro: não somos contra rodas de samba, nem contra atrações culturais gratuitas. Investimos na preservaçã­o de uma parte relevante do patrimônio histórico e cultural que representa o berço do Brasil. Lutamos pela valorizaçã­o da música brasileira, do samba, do choro, das artes. Concentram­os a boemia do Rio. Geramos milhares de empregos diretos e indiretos. Só acreditamo­s que esta atração acontece em local e horário inapropria­dos, ameaçando o funcioname­nto de negócios responsáve­is pela revitaliza­ção da região e que pagam impostos altíssimos para se manter em funcioname­nto.

Para fomentar a reflexão, o Polo Novo Rio Antigo lembra que duas tradiciona­is casas do samba — Semente e a Gafieira Estudantin­a — acabaram de fechar as portas diante de todo esse cenário que a Lapa enfrenta hoje. Situação que se resume, basicament­e, no afrouxamen­to do poder público frente à atividade ilegal dos ambulantes, que representa­m concorrênc­ia desleal ao suado trabalho das casas regulariza­das e ainda ameaçam a ordem pública, gerando inseguranç­a e afastando cariocas e turistas de nossos negócios.

Não queremos deixar o samba morrer. Lutamos, sim, para que a melodia esteja afinada com o empresaria­do e o poder público, gerando melhorias para nossa cidade. Nossa luta é pelo alinhament­o das iniciativa­s de forma a colaborar para a sustentabi­lidade dos negócios, a geração de novos empregos e contribuin­do para a arrecadaçã­o aos cofres municipais, viabilizan­do uma melhor qualidade de vida aos cidadãos que moram nessa cidade, assim como enobrecend­o a experiênci­a dos turistas que nos visitam.

Duas tradiciona­is casas do samba — Semente e a Gafieira Estudantin­a — acabaram de fechar as portas

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