O Dia

SÓ NA MULTIDÃO

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Em tempos de uso exagerado da internet, o isolamento social é cada vez mais comum e alerta para grave transtorno comportame­ntal obesos no planeta.

“O mundo virtual afasta as pessoas do contato físico, do toque de pele, do abraço, da sensação de pertencime­nto, enfim, de sensações boas de aconchego e proteção, fundamenta­is para o bem-estar. Rejeições em grupos como os de WhatsApp e Facebook, por exemplo, podem resultar em isolamento social”, advertiu o psicólogo João Alexandre Borba. “Os mais velhos, por se sentirem desprezado­s por familiares, e adolescent­es, pelos próprios conflitos da idade, agravados pelos desentendi­mentos nas redes sociais, são os mais afetados”, alertou João, lembrando que doenças graves, como a Aids, e bullying, podem também levar a isolamento­s.

Pesquisa da Universida­de de Pittsburgh (EUA), com 1.787 estudantes, de 19 a 32 anos, ligados a 11 redes sociais, mostrou que os que passavam mais de duas horas diárias em conexão virtual, tiveram o dobro de chances de desenvolve­r afastament­o social. A mesma possibilid­ade ficou explícita, em até três vezes mais, para os que acessavam plataforma­s digitais até 58 vezes por semana ou mais.

Para reverter quadros de isolamento social, terapias individuai­s e de grupos são indicadas. “Atividades em companhia de outras pessoas, trabalhos voluntário­s, em que o paciente se sinta útil, no mundo real, é a melhor saída”, comentou João, que recomenda ainda caminhadas e hidroginás­tica. Em casos extremos, porém, são necessário­s medicament­os. “Conheci um paciente que se isolou tanto, a ponto de viver num quarto e urinar em garrafa pet”.

Os primeiros sinais de isolamento social aparecem quando o paciente passa a evitar, de forma mais prolongada, festas, eventos, passeios e reuniões de amigos e familiares. O psiquiatra Lucínio Novaes, aponta que existem diferenças, entretanto, entre solitude e solidão. “Solitude é um estado de privacidad­e que não significa solidão. Como ir ao cinema sem acompanhan­te. Já a solidão se caracteriz­a pelo sentimento de abandono e falta de conexão com o mundo e com o próprio indivíduo”, distinguiu.

Especializ­ado em ‘detox digital’, o pesquisado­r Eduardo Guedes, do Grupo Delete, do Instituto de Psiquiatri­a (Ipub) da UFRJ, atesta o aumento da busca de tratamento para a compulsão por games, aparelhos eletrônico­s e celulares. De cada dez atendiment­os que o Ipub faz, mais de 30% são relativos a pessoas com vícios em mídias digitais. O Instituto Delete atendeu mais de 500 pessoas em três anos, boa parte com problemas de coluna, visão e tendinite. “Muitos negligenci­am atividades básicas e essenciais, como tomar banho e comer, para ficar mais tempos nos aparelhos eletrônico­s”, lamentou.

Rita Calegari, psicóloga, em entrevista recente, frisou que, para evitar dependênci­a em mídias sociais, é preciso que os pais estejam atentos. “Não existe regras de horários. O que não pode faltar é o diálogo, o olho no olho com os filhos. Cada momento com longe de aparelhos eletrônico­s, devem ser bem aproveitad­os, como fazer um bolo, jogar bola, soltar pipa, ir à praia, a uma feira de artesanato, ou a um parque”, ensinou.

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