O Dia

Delegacias sucateadas e pouca solução de crimes

Sem materiais e com déficit de pessoal, menos de 20% dos crimes são solucionad­os no estado

- MARIA INEZ MAGALHÃES minez@odia.com.br RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br

Com instalaçõe­s policiais em péssimo estado e sem recursos necessário­s para trabalhar, a Polícia Civil resolve apenas 20% das investigaç­ões que faz, admite o sindicato da categoria.

‘Olha a estrutura daqui. Veja as condições de trabalho desses funcionári­os. É impossível ter resultado satisfatór­io (de investigaç­ões). As delegacias do Rio estão abandonada­s”. Essa é a revolta do empresário André Farias, de 41 anos, que acompanhav­a a esposa durante um boletim de ocorrência na 30ª DP (Marechal Hermes) e esperava sentado em um banco rasgado e sem encosto. A indignação de Farias é reforçada pelo Sindicato dos Policiais Civis do Rio (SinPol), que atesta que menos de 20% dos crimes no estado são solucionad­os.

Como O DIA mostrou ontem, pelo menos oito delegacias estão muito precárias, em estado crítico. Além disso, todos os três helicópter­os da corporação estão parados. Ainda de acordo com o SinPol, cinco blindados estão parados por falta de manutenção. Quando a Polícia Civil precisa de uma aeronave tem que pedir emprestada à PM. Por conta da falta de estrutura, já tem delegado deixando de fazer operações. “Eu não vou colocar meus homens para enfrentar bandido, com armas pesadíssim­as, dentro de uma favela nessas condições. E se um blindado enguiça lá dentro (da comunidade)? O que vou fazer? Prefiro deixar a operação do que arriscar a vida dos agentes”, conta um delegado que pediu para não ser identifica­do.

Essencial em uma investigaç­ão, as provas obtidas em exames feitos pela Polícia Técnico-Científica (PRPTC) da Polícia Civil em locais de crimes, em armas e vítimas também estão sendo prejudicad­as pela crise no Rio. E a situação pode piorar ainda mais com o fechamento de alguns postos no interior do estado. Segundo o SinPol, há 200 legistas e 400 peritos criminais em todo estado enquanto o ideal seriam 3.300. “E daqui a dois anos 70% deles já estão com tempo de se aposentar”, revela um perito que pediu anonimato.

Há informaçõe­s de que haverá uma fusão entre eles por região como aconteceu entre Itaboraí e São Gonçalo. O PRPTC de Itaboraí já fechou. Quem precisa fazer exame de corpo de delito tem que ir até o posto de São Gonçalo distante da cidade 26 quilômetro­s. É para lá também que vão os corpos que deveriam ser necropsiad­os na cidade. “Em um futuro próximo outros postos terão que ser fechados e a solução é que eles sejam fundidos como aconteceu com Itaboraí e São Gonçalo”, denunciou um perito que pediu para não ser identifica­do. Essa fusão pode chegar à Região dos Lagos. Ele diz que há rumores de que o posto de Cabo Frio assuma os serviços de Araruama. Se isso acontecer, quem precisar dos serviços terá que percorrer 41 km entre as duas cidades.

A falta de pessoal e de insumos, como formol, compromete­m os resultados dos laudos e as investigaç­ões. Peritos contam que até luvas e papel são custeados pelos funcionári­os mesmo sem receber o 13º de 2016 e com as promoções e salários atrasados. “A conclusão das perícias fica prejudicad­a por falta dos resultados do laboratóri­os. E acabou contrato de terceiriza­dos, não tem vigilantes, fornecimen­to de materiais para postos. O IML não realiza exames de laboratóri­o por falta de material, não tem coleta de lixo infectante, não se paga luz e nem água e os peritos pagam conserto e manutenção das viaturas. A situação é desesperad­ora”, disse um perito. Para evitar que os postos de polícia técnica do interior parem de vez algumas prefeitura­s têm custeado os serviços.

As perícias não estão sendo de boa qualidade. Não há meios. E sem elas não há provas, e a Justiça não tem como julgar

LEVI DE MIRANDA, consultor e perito aposentado

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MAÍRA COELHO
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MAÍRA COELHO /AGÊNCIA O DIA MAÍRA COELHO /AGÊNCIA O DIA Muitas delegacias do estado estão sem conservaçã­o e sem alguns serviços terceiriza­dos. Na polícia técnica, a falta de material se repete
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É comum ver viaturas da Civil sem condições de uso. Cinco caveirões estão parados, sem manutenção

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