O Dia

Como Rogério 157 enganou a polícia do Rio por 74 dias

Bando ligava informando paradeiro falso de 157 para despistar agentes e ele circular entre favelas

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

Traficante circulou livremente pela cidade, frequentou festas e bailes e chegou a voltar para a Rocinha várias vezes, apesar do cerco à favela, feito por 500 PMs.

Os 74 dias de fuga do traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, foram regados a festas em bailes funk, ligações ao DisqueDenú­ncia com falsas informaçõe­s para despistar seu paradeiro e brigas constantes com aliados, incluindo a mãe da sua filha, que pediu divórcio. O criminoso confiava tanto que não seria preso, que voltou inúmeras vezes à Rocinha, furando o cerco de 500 policiais militares.

Já detido, na quarta-feira, achou graça da fila de policiais que pediam para tirar fotos ao seu lado. Um dos seus advogados afirmou que Rogério chegou a fazer chacota com o rival, Antônio Bonfim Lopes. “Bem diferente do Nem, não?”, disse, puxando a gola da camisa e caindo na risada. Ele imitava a forma como os policiais conduziram Nem à sede da Polícia Federal, em 2011.

Ainda na delegacia, chegou a reparar na beleza de uma repórter e comentou com seu advogado. “Não iria dar entrevista. Mas vi os olhos azuis e não resisti”. Rogério teria respondido à jornalista “não sei”, em relação ao fato de se sentir aliviado com o fim da caçada policial. Após passar dois dias na solitária, já tinha a resposta. “Preferia estar morto do que aqui”, afirmou à defesa.

Para amenizar a passagem dos 45 anos a que ele deve ser condenado, o traficante reforçou um pedido na visita que recebeu, sexta-feira: quer fazer uma colaboraçã­o premiada. Como troca por segredos do tráfico, pretende reduzir sua estadia em um presídio federal. Procurado, o delegado Antônio Ricardo Nunes, titular da Rocinha, disse que já recebeu a informação da defesa. “Não vou entrar em detalhes. Mas temos interesse, sim”, afirmou.

Por conta disso, Rogério ainda não prestou depoimento formal. Mas aos policiais que foram ouvidos pelo DIA, passou algumas informaçõe­s. Entre elas, está o motivo do racha com Nem: a falta de atenção que ele ofe-

receu ao seu genro, Adriano Cardoso da Silva, o Modelo.

Em agosto, Modelo, que possui uma filha de meses de idade com Duda, a primogênit­a de Nem, levou um soco de um traficante em um beco. Inconforma­do, procurou por Rogério, que fez pouco caso da reclamação. Um mês depois, Nem enviou um recado: a chefia deveria ser entregue a Ramon Aleluia, o Manga. Segundo o delegado Nunes, Manga aparece em um vídeo feito em maio, no Maracanã. Na imagem, ele está no meio de duas mulheres que brigam por sua causa. Uma delas é ex-mulher de um PM.

Rogério disse que a ordem foi causada por fofoca e não a cumpriu. A guerra, então, foi declarada. O conflito que se seguiu chamou a atenção da imprensa nacional e internacio­nal. Fez com que Rogério 157 se tornasse conhecido além dos limites da Rocinha. Agora, desfruta da fama atrás das grades.

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ANDRE MELO / AGÊNCIA TEMPO/ ESTADÃO CONTEÚDO Rogério 157 riu da fila de policiais que queriam ser fotografad­os com ele após prisão
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REPRODUÇÃO Vídeo mostra uma briga entre mulheres por Manga no Maracanã
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Manga foi escolhido por Nem para chefiar tráfico na Rocinha

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