O Dia

Saiba mais sobre o bitcoin, moeda digital que divide opiniões

- EDUARDO PIERRE pierre@odia.com.br Colaborou a estagiária Luana Dandara, com Agência France-Presse

Fenômeno monetário da década, o bitcoin dispara na cotação na mesma velocidade com que surgem dúvidas, interessad­os e críticas — até economista­s com Prêmio Nobel na estante torcem o nariz para a criptomoed­a. Se é uma bolha e quando vai estourar, ninguém sabe; o certo é que muitos já ganharam milhões apostando com carteiras virtuais. O câmbio é dinâmico. Às 22h de sexta-feira, quando esta página foi fechada, um bitcoin valia mais de R$ 50 mil.

Ao contrário do real, do dólar e do euro (e por aí vai), o bitcoin não é regulado por nenhum Estado, muito menos tem um Banco Central tomando conta. A lisura dos processos, garantem os operadores, está nos milhões de computador­es que validam cada transação. Todas, desde 2009, estão em um ‘livro-caixa’ público e inviolável, o ‘blockchain’.

UM GIGANTE

No começo do ano, um bitcoin era negociado por mil dólares (R$ 3.300), mas seu valor se multiplico­u por 15, estimulado pelo interesse dos mercados americanos, que preveem lançar este mês contratos a prazo.

Atualmente, o valor de mercado do bitcoin é superior ao da Coca-Cola e ao Produto Interno Bruto de um país como a Finlândia. “A evolução do preço é excepciona­l e não tem equivalent­es. Essa dinâmica é claramente uma bolha, só não sabemos quando vai estourar”, garante Neil Wilson, analista da ETX Capital.

Muitos discordam. “Quem fala em bolha não tem o menor conhecimen­to histórico do bitcoin. O mundo digital requer economista­s que analisem melhor esse histórico. A bolha até vai estourar, mas vai se recuperar de novo, como aconteceu umas cinco vezes e voltou com preço quatro vezes maior”, atesta Rocelo Lopes, CEO da CoinBR, uma das corretoras em atividade no Brasil.

Adilson Silva, da Mazars, empresa de auditoria e consultori­a, acha inevitável a comparação com moedas físicas. “O dólar, por exemplo, tem um laço econômico; já o bitcoin é especulati­vo, é oferta e demanda: quanto mais pessoas compram, mais ela sobe, e quanto mais pessoas vendem, ela decai. O risco é muito grande. Por outro lado, é uma forma de pagamento importante, não podemos fechar os olhos para isso. No Brasil, 2.000 comércios já aceitam”, enumera.

‘PIRATA’

Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial, é curto e grosso. “Por que as pessoas querem essa ‘moeda alternativ­a’? É para participar de atividades ilícitas: lavagem de dinheiro, evasão fiscal”, fuzilou, em entrevista à BBC. Jean Tirole, vencedor em 2014, faz coro. “Não tem valor intrínseco, pode afundar da noite para o dia. Por isso, não gostaria que os bancos franceses investisse­m no bitcoin.”

O risco, de fato, é uma unanimidad­e. “Há investidor­es cientes disso: ‘Eu sei que tem o risco, mas tem os números, o histórico”. E tem a questão de o usuário poder executar o investimen­to a qualquer momento, sem ter que ligar para banco”, comenta Rocelo. “Não é uma atividade econômica regulada. A moeda sobe e desce muito rapidament­e e, apesar de a rentabilid­ade ser grande, o risco também é”, resume o professor de economia do Ibmec-RJ Ricardo Macedo.

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