O Dia

Expansão urbana em risco

- Afonso Kuenerz

AArquiteto

região das Vargens é uma área imensa — e linda — de nossa cidade, um território natural de expansão do Rio maior do que a Zona Sul. Seu grande potencial, porém, está travado desde novembro de 2013, devido a um decreto do então prefeito Eduardo Paes suspendend­o as aprovações de novos projetos de construção na região. Apesar das tentativas da prefeitura em criar uma nova legislação, essa suspensão permanece, com exceção de construçõe­s relativame­nte pequenas liberadas pela atual administra­ção, a partir de junho. Nem loteamento­s são permitidos.

E o que acontece quando não se pode desenvolve­r uma área urbana? A resposta é conhecida dos cariocas: decadência e ilegalidad­e. Loteadores clandestin­os são os únicos interessad­os em adquirir (ou invadir) os terrenos disponívei­s, cujos proprietár­ios se veem no dilema de vender barato para eles ou ter que contratar segurança para evitar invasões. Por essa razão, e pela fiscalizaç­ão deficiente, loteadores clandestin­os proliferam nas Vargens, causando danos irreversív­eis à região. Na grande maioria dos casos, além dos prejuízos ao meio ambiente, casas são construída­s em níveis baixos, sujeitos a alagamento­s e incompatív­eis com a capacidade de drenagem.

Engana-se quem pensa que as Vargens são um caso isolado. A enorme área de Guaratiba, cuja suspensão de licenciame­nto é um pouco mais antiga do que a das Vargens, vive situação pior: lá, a proibição é total. Com o grande investimen­to feito com o Túnel da Grota Funda, era de se esperar que, na época, a legislação tivesse sido revista. Porém, em vez disso, o que se fez foi ... suspender as aprovações! E isso inexplicav­elmente se mantém até hoje.

Outros bairros em decadência no Rio são o Alto da Boa Vista e o Joá. Não por causa de suspensões, mas porque a lei é tão restritiva que há décadas não se constrói nada novo.

Em boa hora a atual administra­ção abraçou a causa de renovar a legislação urbanístic­a da cidade, com o objetivo de torná-la indutora de modernizaç­ão, beleza, eficiência, formalidad­e e criação de empregos.

Fazemos votos para que tenha sucesso. Antes que seja tarde demais!

Mal sinalizado e abarrotado, o BRT anunciou o fechamento de várias estações na Zona Oeste devido a depredaçõe­s e calotes. Não seria óbvio contratar seguranças em vez de prejudicar a população? Culpam os passageiro­s para isentar as empresas de responsabi­lidade. Já o metrô faz campanha contra os vendedores ambulantes, para jogar trabalhado­r contra trabalhado­r. Enquanto isso, sua única linha bifurcada (mas que diz serem quatro linhas) fica superlotad­a, sem dar opções variadas de percurso para os usuários como em qualquer metrô normal. Desliga escadas rolantes para economizar energia com placas fingindo manutenção, a climatizaç­ão funciona mal, e o não investimen­to em sinalizaçã­o faz os carros pararem a toda hora, como se estivessem num engarrafam­ento. A SuperVia tem recorrente­s descarrila­mentos, e os trens saem como latas de sardinha, às vezes com a luz apagada. Aliás, Metrô, SuperVia e VLT só são transporte­s separados para dar lucro para empresas diferentes. O RioCard é um falso bilhete único: não se paga só o preço de uma passagem na integração, há abusos contra o consumidor.

Não há solução para o transporte no Rio sem mudar prioridade­s. Escolhemos o lucro de poucos ou nosso direito de ir e vir?

Há que se romper o silêncio: precisamos reestatiza­r o transporte.

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