O Dia

Natal com luz elétrica e preocupaçã­o

Comunidade em Paraty tem primeiro fim de ano com energia, mas teme que o progresso atraia violência

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

Pela primeira vez, a comunidade caiçara de Ponta Negra, em Paraty, irá passar um Natal com luz elétrica. A árvore com pisca-pisca, inclusive, já foi montada nas areias da praia. Se por um lado a comunidade de pescadores está feliz com a chegada da energia elétrica, por outro, alguns temem que o progresso possa acarretar mudanças na cultura e até levar a violência para o local, que nunca registrou sequer um assassinat­o.

“Os mais antigos têm receio que as crianças se deslumbrem com a TV, que vejam cenas de violência e até a luz traga estrada para cá. Mas a maioria é a favor da energia sim”, afirmou um caiçara, que pediu para não ser identifica­do.

Outro pescador, Wanderley dos Remédios, 44, conhecido como Careca, disse que a luz é uma vitória. “A energia é um sonho. Quem não quer um conforto? Cozinhar sem ter vela, geladeira”, disse. Seu irmão, que se identifico­u como Teteco, disse que irá melhorar a venda de peixes. “Às vezes a gente faz um pescado bom e não tem como armazenar, perde tudo. Agora, isso tem solução. Algumas mães têm preocupaçã­o com a televisão, internet... Mas assim como a maioria, acredito que a luz era algo esperado por todos”, disse.

Segundo uma advogada que atua na região, o principal problema de Ponta Negra é a Educação. “As crianças só estudam até a quarta série. Isso sim leva à violência. A exclusão social é algo que fomenta a criminalid­ade. Claro, que a cultura deles, que é riquíssima, pode ser modificada pela alienação que a televisão traz. Mas isso é combatido com Educação”, disse.

Conforme O DIA mostrou esta semana, os municípios de Angra dos Reis e Paraty sofrem com a escalada da criminalid­ade. Ao mesmo tempo, o batalhão da PM que atende a esses municípios está com efetivo abaixo do ideal e não possui nem rádios de comunicaçã­o.

A produtivid­ade policial aumentou assim como a criminalid­ade, o que fez o delegado Bruno Gilaberte, titular de Angra, afirmar que “a questão não passa só pela polícia, o contexto sócio-econômico é que desemboca nesse tipo de criminalid­ade que, no final das contas, exige a intervençã­o policial”.

Em outubro, Angra foi o terceiro batalhão com o maior registro de autos de resistênci­a no estado, com nove casos. Nos primeiros 10 meses houve 26 mortes provocadas pela polícia. Uma delas de um inocente: a do jovem Tovick Coelho, 16 anos, atingido por tiro disparado por policial que tentava evitar fuga de criminosos.

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FOTOS DIVULGAÇÃO Moradores de Ponta Negra, em Paraty, comemorara­m a chegada da energia elétrica no dia 9 deste mês
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Paraíso só tinha luz de velas e energia criada por geradores

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