O Dia

ENTREVISTA

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traduz melhor a atuação de Selton Mello em ‘Treze Dias Longe do Sol’ do que brilhante. Na pele do engenheiro Saulo, principal responsáve­l pelo desabament­o do prédio que dá início à história escrita por Luciano Moura e Elena Soarez, Selton intriga o espectador a tentar entender a mente dúbia do personagem. Na entrevista a seguir, o ator e diretor fala sobre a série, que está disponível para assinantes do Globo Play e estreia na TV aberta no dia 8, e diz que namora, apronta e toma porre como qualquer ser humano. “As pessoas não sabem porque eu não fico dando pinta por aí”.

NENHUMA PALAVRA

■ ‘Treze Dias Longe do Sol’ é eletrizant­e. Como é participar de uma produção dessas?

● Foi um prazer enorme participar dessa série. Eu acho uma série muito bem construída. Única! É uma história impression­ante. Sou muito fã do casal Luciano Moura e Elena Soarez, porque foram eles que escreveram a série. Já tinha vontade de trabalhar com eles há muito tempo. Saulo é um personagem fascinante. Não trabalhava com a Carolina Dieckmann desde ‘Tropicalie­nte’... Vários fatores me fizeram aceitar esse papel.

■ Você não é um ator que figura fácil na TV. O que te levou a aceitar esse papel?

● Acho um personagem muito rico, dúbio. E naquela condição precária, no limite... Achei muito interessan­te. É um personagem denso, e logo que eu li, me interessei em fazer.

■ A série está na íntegra no Globo Play. Você já tem recebido retorno sobre o Saulo?

● Tenho recebido, sim. Muita gente tem visto pela Globo Play, mas acho que a audiência maiorvaise­rquandoela­estrear na Globo, em janeiro. O maior ‘boom’ é sempre na TV aberta.

■ Saulo desviou dinheiro da obra do prédio para sua própria conta. Mas quando o prédio caiu, o ‘vilão’ virou herói e saiu salvando os soterrados.

Afinal, ele é mocinho ou bandido?

● Ele é o que o público decidir que ele é. Saulo é um personagem dúbio. Os meios que ele fez aquilo foram meios vis. Mas ele aprendeu muito com aquilo ali também. Então eu não sei o que ele é. Ele é humano: erra, acerta. Eu costumo dizer que é uma série de pessoas soterradas, mas quem está lá em cima também está soterrado. Os personagen­s de Deborah Bloch e Paulinho Vilhena estão igualmente soterrados por outros motivos: pela culpa, pelo envolvimen­to naquilo tudo... Acho os personagen­s muito bem delineados.

■ Como foi gravar essa série? Seu personagem passa a maior parte do tempo sob os escombros.

● Não sou muito claustrofó­bico, não. O público não imagina como foi essa gravação. Tudo aquilo era feito em estúdio. Claro que a gente chegava, se sujava, fazia uma maquiagem de machucado... Mas em estúdio. A gente não vivia como os personagen­s estão. A gente gravava as cenas e voltava para o camarim. Foi muito bem coordenado pelo Luciano, que dirigiu a série. Aquela sensação claustrofó­bica que foi vivida na série a gente não viveu.

■ O cinema te encanta mais do que a TV?

● Não. O que me encanta mais são bons trabalhos. Existe cinema bom e cinema

ruim. Existe boa TV e má TV. Me encanta fazer bons projetos e isso eu encontro tanto no cinema quanto na TV, como em ‘Treze Dias Longe do Sol’, ‘Os Maias’, ‘Ligações Perigosas’ e tantas outras coisas boas que eu fiz na TV.

■ Qual é o seu próximo lançamento no cinema?

● Ainda não tem. Todos os filmes que eu tinha feito foram lançados este ano. Agora, eu estou viajando um pouco com ‘O Filme da Minha Vida’ (que ele dirige).

■ Você começou em novelas aos 9 anos. Por que decidiu ‘abandonar’ as novelas?

● Eu não abandonei exatamente as novelas. Mas há uns 15 anos eu comecei a ter vontade de fazer coisas mais curtas. O que me pega sempre é a duração. Uma minissérie como essa foram dois meses, dois meses e meio de envolvimen­to. Depois dali, eu já fiz um filme, já escrevi um negócio... Esse dinamismo é que acaba prevalecen­do nas minhas escolhas.

■ Por que nunca se casou?

● Essa é a pergunta clássica. A resposta é... não sei. A vida foi indo assim. Tá bom assim. Não tenho pressa disso. Pode ser que eu nunca case ou que case na semana que vem.

■ Tem vontade de ter filhos?

● Filhos é a mesma coisa da resposta anterior. Não sei

quando, como, se acontecer... Não é uma coisa que eu tenha planos ou que sonhe com isso.

■ Pouco se tem notícia de sua vida pessoal. Você não namora? Não apronta? Não toma um porre?

● Namoro, apronto e tomo porre! Só que eu não vou no lugar onde estão os paparazzi. E eu sou mineiro. Mineiro já nasce low profile. Sim! Eu namoro, tenho rolo, casinho... As pessoas não sabem porque eu não fico dando pinta por aí. Eu acho que, na verdade, isso não é a coisa mais importante. O meu trabalho deve vir na frente.

■ Teoricamen­te, o que se sabe é que você mora sozinho. É bagunceiro ou arrumadinh­o?

● Teoricamen­te não! Eu moro sozinho! Sou mais pro arrumadinh­o, viu? É meu lado virginiano. Tenho um prazer especial em organizar. Pego a papelada e transformo tudo em um papel só. Tiro um dia para arrumar as roupas também. Eu sou mais pro arrumadinh­o.

■ Você cozinha? Que prato você sabe fazer?

● Nada! Sou péssimo na cozinha. Não sei fazer nada, mas eu sei comer. Minha especialid­ade é chocolate. Sou uma formiga. No cardápio, eu olho primeiro a parte de sobremesas. Se a sobremesa for boa, eu peço salada pra poder comer a sobremesa depois. Eu sou tarado

por chocolate.

■ Você vai estar na próxima novela da Manuela Dias?

● Não estou sabendo de nada. Amo a Manuela Dias. Ela é um grande talento e vai longe ainda. Fiz o ‘Ligações’, que foi adaptado por ela. Depois assisti ao ‘Justiça’, que foi um trabalho lindo. Tenho certeza de que ela vai fazer uma estreia brilhante no horário nobre. Ela tem uma energia muito forte e é uma cabeça criativa. Manuela Dias tem a minha torcida. Adoro ela pessoalmen­te também. Virou uma amiga. É uma pessoa para quem eu torço muito.

■ Fala um pouco sobre a série ‘O Mecanismo’, que estreia ano que vem no Netflix?

● Não posso falar muito dessa série por causa do contrato com a Netflix. É uma série com José Padilha, que é um diretor que eu adoro. Vai estrear no mundo todo, numa plataforma muito forte. Eu faço o protagonis­ta e acho que é uma série que o povo vai gostar muito.

■ Em algum momento você pensou em dar um tempo na carreira?

● Pensei em muitos momentos. Muitas vezes, eu dei um tempo na carreira, mas as pessoas não se deram muito conta. E pelo fato de também ser diretor, é bom. Posso fazer isso de uma forma mais orgânica. Eu fiquei três anos da minha vida somente dirigindo

‘Sessões de Terapia’, que eu amei fazer. Foi uma escolha. Dirigi sozinho 115 episódios. Foram três anos da minha vida que eu não atuei. Quando deu vontade de atuar, eu voltei. Esse fato de pular para frente e para trás das câmeras é uma coisa muito boa.

■ Você tem alguma mania?

● Não tenho muitas manias, não. Talvez eu tenha mania de organizar. Quando vejo a mesa ou a casa muito bagunçada, me dá uma aflição. Quando está tudo muito bagunçado, fica difícil eu me organizar. É difícil pra cabeça. Uma outra mania talvez seja Whatsapp. Acho uma invenção maravilhos­a. Eu acho telefone chatíssimo. Quando a pessoa liga, eu já acho chato. O áudio é a melhor invenção dos últimos tempos, porque aí você pode deixar um áudio para a pessoa, a pessoa ouve no tempo em que ela puder e responde no tempo em que ela puder. Assim, você desenvolve uma conversa sem precisar parar o que você está fazendo para falar no telefone. Talvez seja uma outra mania.

■ Você lê revistas de celebridad­es? Gosta de saber quem está com quem?

● Na espera do dentista eu leio. Acho divertido ler e saber quem está ficando com quem. Eu não compro. Não é uma coisa que faz parte do meu repertório. Acho que, às vezes, a turma se expõe demais. Mas não julgo. É a escolha de cada um.

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RAQUEL CUNHA/TV GLOBO

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