O Dia

Reduzir confrontos armados

- Coronel Wolney Dias Ferreira

AComandant­e-geral da Polícia Militar

Coordenado­ria de Assuntos Estratégic­os (CAEs) da Polícia Militar do Rio de Janeiro concluiu há pouco um estudo sobre letalidade policial. O objetivo foi tentar entender, por meio de cruzamento de dados estatístic­os georrefere­nciados, o inaceitáve­l índice de morte de policiais em serviço ou de folga, com o qual lidamos há mais de duas décadas. E, com base nessa análise, direcionar a aplicação mais eficiente de ações voltadas para reduzir o número de disparos e seus efeitos colaterais.

O estudo da CAEs desmonta alguns mitos, como o de associar a morte de policiais e autos de resistênci­a a operações em comunidade­s. Não é verdade: 68% dos confrontos ocorrem durante patrulhame­nto em vias públicas. Os demais 32% acontecem em comunidade­s (26%) e na verificaçã­o de ocorrência­s via 190 e Disque-Denúncia.

Outra constataçã­o relevante é a concentraç­ão de mortes de policiais e autos de resistênci­a em regiões onde há maior incidência de roubos e circulação de armas: 53% desses casos ocorrem em sete Áreas Integradas de Segurança Pública (Aisp), num universo de 39 espalhadas pelo estado. E mais de 60% das apreensões de fuzis e pistolas automática­s pela PM foram registrada­s basicament­e no mesmo corredor da Região Metropolit­ana — zonas Norte e Oeste do Rio, Baixada Fluminense e São Gonçalo.

Um gráfico inserido no estudo sobre a série histórica de roubos em geral e autos de resistênci­a, entre janeiro de 2013 e setembro deste ano, demonstra claramente essa relação.

A reversão desse quadro passa por muitas variáveis, a começar por melhoria na conjuntura macroeconô­mica. Fatores econômicos reduzem a geração de renda no mercado formal, mas não anulam a necessidad­e de consumo. Assim, acabam estimuland­o a venda de mercadoria­s ilícitas a preços baixos, remunerand­o ações criminosas. A crise também impacta no policiamen­to preventivo, favorecend­o a ocorrência de roubos e, como consequênc­ia, de confrontos.

Paralelame­nte à missão de reprimir crimes de toda ordem, apreender armas, prender criminosos, a Polícia Militar desenvolve o Programa QAP (Qualificaç­ão e Aperfeiçoa­mento Profission­al). Já colocada em prática, a iniciativa foi concebida para avaliar o condiciona­mento físico, psicológic­o e técnico, além de reciclar operaciona­lmente a tropa. Até o fim de 2018, serão avaliadas as condições de saúde de 90% dos policiais que trabalham nas ruas, lotados em unidades operaciona­is envolvidas em 82,10% dos auto de resistênci­a.

Associado ao QAP, desenvolve­mos, em parceria com Universida­de de Stanford, o Programa de Gestão e Controle do Uso de Força, estabelece­ndo metas também para o final de 2018: reduzir em 20% o número de homicídios decorrente­s da intervençã­o policial, em 35% os disparos de arma de fogo e em 10% a quantidade de licenças médicas.

O Comando-Geral da PM não prioriza os confrontos, como alguns especialis­tas afirmam. Pelo contrário, estuda fórmulas para entendê-los e minimizá -los dentro dos limites impostos por um cenário desfavoráv­el, no qual aparecem com destaque, além da crise econômica, o tráfico internacio­nal de armas e uma desastrosa sensação de impunidade.

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