O Dia

Genocídio explícito

-

Lutar pela garantia dos direitos humanos no Brasil, assim como em outras regiões do mundo, representa historicam­ente um enfrentame­nto às forças dominantes no país, seja econômica, seja politicame­nte. O Estado, por exemplo, é tradiciona­l violador de direitos humanos quando não garante o acesso a saneamento básico, educação e transporte, bem como coloca em andamento um projeto de segurança pública violento, ineficaz e em evidente desacordo com o sistema internacio­nal.

Denunciar e combater as injustiças, porém, é caminho tortuoso que passa por constantes ameaças, perseguiçõ­es e até a morte. É o que demonstrou o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, responsáve­l pelo levantamen­to ‘Ataques letais, mas evitáveis: assassinat­os e desparecim­entos forçados daqueles que defendem os di- reitos humanos’, repassado à Anistia Internacio­nal e divulgado recentemen­te. O relatório apontou que, somente entre agosto e janeiro deste ano, 58 defensores dos direitos humanos foram mortos no Brasil.

Segundo o estudo, a maioria dos mortos estava engajada em causas diretament­e ligadas ao meio ambiente e a disputas de terra. Outro alarmante dado é o crescente número de homicídios de transgêner­os que reivindica­m direitos humanos. A assustador­a probabilid­ade é que até ao fim de 2017 o número de 66 ativistas mortos no país no ano passado seja superado.

Nos últimos 20 anos, mais de 3.500 defensores foram exterminad­os em todo o mundo. Na região das Américas, o Brasil é o país com o maior número de defensores de direitos humanos assassinad­os todos os anos, segundo a coordenaçã­o da pesquisa. Um quantitati­vo absurdo e que vem aumentando a cada ano.

Vale ressaltar que, muitas vezes, as mortes ou desapareci­mentos, grande parte ocorrida em regiões de conflito agrário, foram precedidos de agressões anteriores. Nesse contexto, observa-se uma postura evidenteme­nte conivente por parte do Estado frente a essa conjuntura de violência e covardia.

Não há dúvidas de que os defensores de direitos humanos são alvo do poder político e econômico constituíd­o que se recusa a aceitar os avanços e transforma­ções necessária­s para uma sociedade na qual a dignidade impere. Aqueles que tudo têm são capazes de tudo para perpetuar a estrutura que nada garante àqueles que não têm nada. Nessa roda viva, é preciso resistir e seguir batalhando e apoiando a defesa dos direitos humanos.

Aqueles que tudo têm são capazes de tudo para perpetuar a estrutura que nada garante àqueles que não têm nada

 ??  ?? João Tancredo Advogado
João Tancredo Advogado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil