O Dia

Exceções no deserto de homens e ideias

- Aristótele­s Drummond Jornalista

Oestadista Oswaldo Aranha, que era dono de uma razoável cultura política e foi embaixador histórico do Brasil nos EUA — posição que sempre abrigou notáveis como Carlos Martins, Amaral Peixoto, Walter Moreira Salles e Roberto Campos —, declarou certa vez que o Brasil “era um deserto de homens e ideias”. Dentro do contexto internacio­nal, uma correta constataçã­o, mas com exceções, em que ele mesmo era uma delas.

Mais de meio século de jornalismo político e econômico — só aqui, no DIA, no ano que vem, completo 50 anos da coluna dominical ‘Falando de Política’ — me permite depor como testemunha e interlocut­or de brasileiro­s exemplares. Alguns também eram pensadores de relevo, que muito nos ajudaram a ter todas as condições de um dia assumir a posição sonhada, mas ainda não alcançada.

Alguns desses homens, o destino me levou a não só conhecer, mas a colaborar, embora sempre de maneira modesta, mas com lealdade e amor ao Brasil. No setor privado, muito aprendi como bancário, trabalhand­o com o genial José Luiz Magalhães Lins e, depois, com o próprio dono do Banco Nacional, o correto José de Magalhães Pinto.

O primeiro foi Francisco Negrão de Lima, diplomata, político, que se revelou grande gestor público na Prefeitura do Rio, então Distrito Federal, nomeado por JK e, depois, governador eleito do Estado da Guanabara. O que seria do Rio sem o alargament­o da Avenida Atlântica e dos acessos à Barra da Tijuca e a remoção das favelas do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas? Correção acima de qualquer suspeita, é bom observar.

Depois, ingressei no setor de energia, onde fiz longa carreira, pelas mãos de um idealista e estudioso enro genheiro militar, Cesar Cals, que vinha de ser governador do Ceará, com impression­ante visão de futuro. Nos seis anos de governo Figueiredo, fez triplicar a produção nacional de petróleo, quadruplic­ar a de ouro, planejar e executar o Projeto Carajás, implementa­r, com o ministro Camilo Pena, o Pró-Alcool, tocar a obra de Tucuruí e de Itaipu — além do programa de fontes alternativ­as, hoje consagrada­s em todo o mundo. Quem não viveu aqueles anos não sabe, não por ignorância, mas pela cortina de silêncio em torno dos grandes feitos do período militar. Figura entre os maiores na energia, que nos deu outros notáveis como Mário Bhering e John Cotrim.

Por fim, o destino me ligou de maneira fraterna, diria até filial, a um grande pensador, dono de invejável saber e patriotism­o: Roberto Campos, o homem que sempre soube apontar o melhor caminho para a prosperida­de do Brasil.

Continua semana que vem.

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