O Dia

CAIO PADUAN, ATOR “Sou só um ator, a fama é consequênc­ia da exposição”

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Aos 31, Caio Paduan se tornou um dos atores da nova geração preferido do público e dos diretores de TV. No ar como Bruno, de ‘O Outro Lado do Paraíso’, ele chama a atenção não só pela beleza, mas pela construção do personagem. Também, pudera. Para interpreta­r o mocinho, o ator se aprofundou nos estudos e leu Shakespear­e. Ler, aliás, é um dos passatempo­s de Bruno, que só virou adepto da internet por conta da profissão e prefere os livros aos computador­es. Nada vaidoso, simpático, falante, estudioso e pé no chão, Caio é o entrevista­do deste domingo da coluna. Confira:

▪ Como está sendo fazer o Bruno?

L É uma construção. Desde o início eu já me animei com o convite do Mauro (Mendonça Filho, diretor) porque não é de um vilão. Sabia que ia ter que trabalhar bastante pra ter a construção. Estudei com preparador­es... Eu sou meio que viciado na profissão.

▪ É mais fácil fazer um mocinho?

L Zero fácil porque tem que dar credibilid­ade a ele. Ninguém é perfeito e tem que procurar muitos erros. Ver onde ele erraria, onde ele vacila... Ele é um cara super educado e de bom coração, mas ainda assim é um cara de 20 anos, com uma formação a ser cumprida nessa etapa da vida. Fui atrás disso e trazer a humanidade para que as pessoas olhem e vejam um ser humano, não algo chapado. Eu quero profundida­de e sentimento.

▪ Na novela você vive um amor interracia­l. Isso mudou a sua forma de ver o racismo?

L Eu sempre vi e acho esse preconceit­o muito absurdo porque sempre convivi muito bem com todo mundo, independen­te de raça. Na verdade, acho esse preconceit­o meio maluco até. As pessoas deviam se tratar porque não faz sentido menospreza­r outro ser humano pela cor. É como se menospreza­sse alguém por causa da orelha, entende? Quando eu fui estudar por causa da novela e vi as estatístic­as, me entristeci muito. É algo que você vê o tamanho do buraco e o tamanho da violência que isso causa e quanto interfere negativame­nte na vida das pessoas. Eu vi uma matéria em que o racismo causa uma dor mental muito grande. Imagina para uma pessoa? Vai minando a autoestima e a saúde mental. Você vai buscar emprego e é surreal a diferença e os números. A gente está falando de alguma coisa muito séria e tem que se aprofundar sobre isso.

▪ E você já sofreu algum tipo de preconceit­o?

L Acaba acontecend­o uma coisinha ali outra aqui, mas eu não tenho nem coragem de falar o que eu senti. Eu ouvi quando fui procurar emprego de garçom. Eu fui garçom em festa infantil, trabalhei na rua para pagar faculdade e eu ouvi algumas besteiras assim: “ah, você loicês.

rinho desse jeito e você precisa de emprego?”. Isso é tão bobo perto do que as pessoas passam que eu não tenho nem coragem de reclamar.

▪ Como é trabalhar diretament­e com a Erika Januza?

L Desde o início a gente se deu super bem. Temos uma relação de amigo, de parceirão. Chega a ser engraçado. Parece que a gente é primo. A gente estuda junto e ela me ajudou muito. Erika me contou várias experiênci­as da vida dela e eu também falei das minhas experiênci­as. A gente trocou muito. Trabalhar com uma parceira é mais fácil. A gente se diverte muito. Tem uma galera ali muito legal. Não só a Erika, mas também sou muito amigo do Arthur (Aguiar) e fazer um irmão assim é muito legal. Tem meu pai, que é o Luís Melo. Tem a Eliane (Giardinni), que é um amor também.

▪ Você vem de bons personagen­s. Tem alguma coisa que você ainda queira fazer?

L Por ser meio nerd, gosto muito de história, então não vejo muito tamanho do personagem. Eu gosto de tramas interessan­tes que emocionam. Principalm­ente as que mexem na parte psicológic­a e que eu possa mudar isso, construir do meu jeitinho. Torço para que venham boas histórias, que as pessoas nunca me vejam só em entrevista­s e tal, mas quando eu esteja em cena nunca me vejam. Eu quero construir o máximo possível pra pessoa entender que é outro ser humano.

▪ O que você seria se não fosse ator?

L Pensei em estudar psicologia. Eu fiz jornalismo. Sou apaixonado por jornalismo e admiro a profissão de vouma Adoro dar entrevista... Acho legal a troca. Eu me pergunto muito, me entrevisto também. Eu entrevisto meu personagen­s.

▪ Sério? Mas como que você faz isso?

L Eu pergunto mesmo. Escrevo perguntas e tento responder como eles.

▪ Você recentemen­te quase foi parar numa produção internacio­nal. Você tem interesse de atuar fora do país?

L No início acabou sendo quase e depois acabou sendo muito quase porque ficou entre mim e o menino que ganhou o papel.

▪ Deve ser muito doido saber que eles sabem quem é você, não é, Caio?

L Muito doido! Essa é a palavra porque essa é uma vontade minha trabalhar com cinema e série. Eu consumo muito isso. Tenho mais de 400 filmes aqui comigo, então é vontade de explorar não só o cinema americano, mas o europeu também. Só de ter tido contato com a direção e com os produtores foi maravilhos­o. Eles viram as cenas de ‘Rock Story’. É muito louco! Isso você vai tendo noção da globalizaç­ão, o quanto tá todo mundo conectado.

▪ Você é um cara que é da internet ou não?

L Mais agora. Acabei de comprar meu primeiro notebook com 30 anos. Que vergonha, né?. Usava o da família, da irmã. Tô na internet agora, mas eu gosto da troca que isso tem em relação às pessoas, com o público nas redes sociais.

▪ Teve algum momento da fama que você tirou o pé do chão?

L Acho que quando você estuda e trabalha tanto pra isso, você lembra das horas de trabalho de barman, de tudo que fez pra estudar teatro. Era tudo pra conseguir me formar. Pagava a faculdade e depois de um monte de peças com personagen­s pequenos, ralação... Eu sou só um ator, a fama é consequênc­ia da exposição que o veículo traz. Se você entende esse mecanismo, se tem pai e mãe, educação de casa, tá sempre em contato com os pais, os mesmos amigos de sempre, não. Tenho os mesmos amigos há 20 anos, então eu prefiro ser o mesmo garoto que nasceu na Tijuca.

▪ Você é um cara vaidoso ?

L Eu sou um cara atento. Não sou muito vaidoso até porque eu permito que meu corpo seja por meu trabalho. Se pensar friamente, esse é meu único material de trabalho, então eu entrego ele. Faz muito tempo que não tenho o cabelo que gostaria, tô em função dos personagen­s.

▪ O que você faz no tempo livre?

L Assisto a séries e filmes. Tenho meus amigos aqui no Rio, treino com calma porque quando você tá gravando muito tem que achar uma brecha pra poder ir pra academia. Consigo fazer meu boxe, que é uma terapia, encontro amigos, janto. Aliás, eu como bastante.

▪ Como você se vê daqui a dez anos?

L Já quase grisalho porque eu gosto de cabelo branco e não vou mexer neles. Gosto de envelhecer, então vai ser muito legal. Daqui a dez anos vou estar mais velho encurtando os caminhos da vida, com mais maturidade e isso me interessa muito.

“As pessoas deviam se tratar por menospreza­r as outras por causa da cor”

▪ E profission­almente? Como você se vê?

L Com ótimos personagen­s. Eu busco muito isso, tenho peças que quero fazer, textos que quero montar, quero escrever um livro, tem uma peça que quero montar, um monólogo falando sobre o homem e tempo tem um monte de coisas que eu quero. Ah, e sei lá, talvez lá pelos quarenta, talvez o primeiro filho já esteja aparecendo.

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DANILO BORGES
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