O Dia

RESISTÊNCI­A CULTURAL

Grupos que pregam a manifestaç­ão cultural e religiosa resistem ao tempo e sobrevivem nos municípios

- ALINE CAVALCANTE aline.cavalcante@odia.com.br

Folia de Reis se mantém, mesmo sem incentivos, em Queimados, Mesquita, Caxias e Guapimirim.

Reisado, Terno de Reis ou Tiração de Reis. Seja qual for o nome, a tradiciona­l Folia de Reis é símbolo de resistênci­a, fé e de manifestaç­ão cultural. Os festejos acontecem no período de Natal até o dia de São Sebastião (20 de janeiro), passando pelo Dia de Reis, celebrado ontem. Presente em alguns municípios da Baixada, porém em número menor que no passado, a Folia de Reis de origem portuguesa está a todo vapor nesta época. Há registros de grupos em Queimados, Guapimirim, Mesquita e Duque de Caxias.

Essa cultura chegou ao Brasil no século 16, adotando o caráter religioso. Ela representa a viagem dos Três Reis Magos, Belchior, Gaspar e Baltazar até o local de nascimento de Jesus.

Chamados de foliões, os participan­tes da Folia de Reis começam as jornadas a 0h do Natal e continuam suas visitas às casas de amigos e parentes, considerad­o como encontro dos Magos com Jesus. “É cansativo, mas sentimos muita emoção”, contou Leonor Sant’anna, 51, a nora da Flor do Oriente, uma das mais tradiciona­is folias de Caxias.

As visitas nas casas de folias, normalment­e feitas em distâncias longas a pé, transmitem mensagens de paz e conforto, e dialogam com a jornada feita pelos Reis Magos, que segundo o mito, batiam nas portas para recolher mantimento­s para seguir viagem. Desta forma, as Folias de Reis são frequentem­ente recompensa­das, após a reza, com alimentos e ofertas em dinheiros anexados à bandeira em sinal de respeito e devoção aos santos. “Há mais de 30 anos recebo as folias na minha casa. Tenho muita fé e os recebo com alegria”, afirmou Alice Gomes, 73, de Duque de Caxias.

Apesar da tradição, o movimento tem diminuindo. Segundo Rogério Silva de Moraes, mestre da Flor do Oriente, eram mais de 50 grupos, mas atualmente são três. “É uma pena. Só nós sabemos o que temos que fazer para manter a tradição viva”, declarou o mestre, que chega a tirar dinheiro do próprio bolso para sair às ruas.

Em Mesquita são apenas dois grupos. “Não temos apoio do poder público e fica difícil se manter”, apontou Sidney Gomes, 48, o mestre Dinho da Sete estrelas do Rosário de Maria.

O Iphan ainda não reconheceu as Folias de Reis como Patrimônio Cultural, o processo está em andamento e o número de folias existentes ainda não é conhecido. Em um levantamen­to da Uerj, cerca de 15 grupos foram registrado­s, porém a pesquisa catalogou apenas os maiores grupos.

FUNÇÕES

O mestre é o dono da Folia. O contramest­re é um cantador substituto do mestre. Alferes é o folião que conduz a bandeira. Eles representa­m os Três Reis Magos. E tem ainda o palhaço que dança com suas roupas chamativas e máscaras. Ele representa os soldados de Herodes. Já os figurantes, são os foliões uniformiza­dos que tocam instrument­os.

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LUCIANO BELFORD
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FOTOS LUCIANO BELFORD Flor do Oriente tem 147 anos. A maioria dos integrante­s são parentes do mestre Rogério
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DIVULGAÇÃO Mesquita tem apenas dois grupos e, em Caxias, ainda existem três

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