O Dia

‘A tesoura está tirando direitos e garantias’

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Qual você destacaria como a área de redução mais grave no orçamento?

Acredito que é o conjunto da obra. Temos dois movimentos nesse plano: o atendiment­o aos interesses dos grandes empresário­s e o suporte à base parlamenta­r, para que ela possa se reeleger. Mas é importante lembrar que esse deputado está depositand­o o recurso ao município e dando aval a um orçamento que diminuí bruscament­e os investimen­tos sociais nas políticas públicas, tirando direitos e garantias. No caso da educação pública e das universida­des, você vê interesse em uma privatizaç­ão futura? É uma área que gera bastante preocupaçã­o, por conta de alguns indicativo­s. O primeiro é o documento com a posição do Banco Mundial que afirma que a educação pública não cabe no orçamento. E houve um ofício que saiu do próprio Ministério da Fazenda afirmando que o Rio de Janeiro não deve ter universida­de pública estadual.

No ano passado, houve também uma votação na Câmara dos Deputados que perdeu por pouquíssim­os votos para flexibiliz­ar o princípio constituci­onal de que a educação pública deve ser gratuita em institutos oficiais. Os deputados começam falando em pós-graduação, mas se tiver espaço para a abertura, é claro que isso pode atingir a graduação. Há interesses nesse sentido. Então, existem vários movimentos, trabalhado­s conjuntame­nte, em busca do sucateamen­to e da posterior privatizaç­ão das universida­des. Sem contar com o orçamento para 2018, uma diminuição substancia­l. Na atual situação de déficit público, é essencial que a dívida do país não sofra aumento. Qual seria, então, a alternativ­a para o orçamento, que não fosse os cortes nessas áreas importante­s, como Ciência, Tecnologia e Educação? Dar ao Estado capacidade de investimen­to para que ele seja indutor real da economia, garantindo que a população possa consumir. E principalm­ente, não ter, como aconteceu em 2017, a farra dos perdões, das isenções e da renúncia de receita para grandes empresário­s.

No ano passado, o governo votou uma renegociaç­ão de dívida que, apenas para deputados e senadores que são sócios de empresas, perdoou recursos da ordem de R$ 3 bilhões.

Além disso, temos a medida provisória do petróleo aprovada, que reduz a tributação das multinacio­nais em R$ 1 trilhão ao longo dos anos.

Só com esses exemplos, o Estado já teria recurso suficiente garantir e recuperar a capacidade de induzir e trabalhar investimen­tos. O governo age pelo lado da tesoura, mas essa tesoura não vale no âmbito dos grandes interesses do sistema financeiro nacional e internacio­nal, e da relação promíscua parlamenta­r.

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