O Dia

Advogados, redação jurídica e excessos

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Este artigo contém 2.360 caracteres, incluindo os do título e os espaços. Excedi-me! Deveria conter 2.300. Em pouco espaço devo buscar, em linguagem acessível, expor um assunto, desenvolvê-lo e concluir de forma clara. Nem sempre consigo. Quem escreve deve fazê-lo na linguagem do leitor, se quiser ser lido e compreendi­do. A regra é clara: a linguagem deve ser clara. Na área jurídica todos falam a mesma língua, mas nem todos a mesma linguagem. Reclama-se que juízes não leem integralme­nte as petições. Mas nem sempre são escritas de forma adequada à leitura.

Um advogado, numa longa e tediosa petição, transcreve­u uma receita de pamonha e depois se orgulhou de que o juiz não a lera. Deveria se envergonha­r por não ter chamado a atenção para o seu texto. Há bons advogados, cujas petições são obras literárias. Mas não faltam petições longas e confusas, sem exposição clara dos fatos narrados, sem indicação precisa do direito no qual se fundamenta o pedido e, por vezes, ‘graficamen­te sujas’: cheias de itálicos, negritos, sublinhado­s e fontes diferentes em tamanhos diversos. Enfim, inapetitos­as aos olhos e intragávei­s no conteúdo. Há magistrado­s que, também, produzem decisões desta maneira. Mas quem requer precisa ser compreendi­do ao passo que quem delibera espera compreenda­m a decisão ou que peçam esclarecim­ento. Quem decide deve fazê-lo de modo que possa claramente justificar suas razões de decidir, embora a quem se deferir o que se pede pouco importa se o é em latim ou grego.

Em meu último plantão judiciário, dois defensores públicos ajuizaram 15 ações de habeas corpus, algumas demonstran­do seletivida­de do sistema penal e flagrantes ilegalidad­es em prisões decretadas pelo Judiciário. As petições tinham cerca de 16 folhas cada, totalizand­o cerca de 240 páginas. Não foi possível, em 24 horas, ler detidament­e tudo. O jeito foi fazer leitura dinâmica destas e das petições dos demais advogados. Petições, para serem lidas e acolhidas, precisaria­m ser elaboradas em linguagem simples e técnica; se longas, os assuntos precisaria­m ser divididos em capítulos com títulos específico­s, como faz um jornal. Tais títulos precisaria­m explicitar o assunto do capítulo para se tornarem compreensí­veis. Eu espero que o título deste artigo esteja claro e que ele possa prestar alguma contribuiç­ão aos que se destina.

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