O Dia

Autismo não é adjetivo

- Eugênio Cunha Professor e jornalista

Otítulo deste artigo não é meu. Veio da indignação de pais, familiares, profission­ais e educadores. Explico: não é incomum alguma personalid­ade da vida pública utilizar a palavra autismo de forma pejorativa, na intenção de criticar ou ofender. O caso mais recente foi protagoniz­ado pela senadora Kátia Abreu, do Tocantins. Em seu Twitter, a parlamenta­r fez alusão ao Congresso Nacional, afirmando que o mesmo continua “autista”, “só se pensa na previdênci­a”. Isto para fazer uma crítica, segundo ela, à “incompetên­cia” e “falta de agilidade” dos parlamenta­res.

Mesmo com o protesto de entidades que defendem a pessoa com o transtorno, a senadora não retirou seu comentário nem se desculpou diante da gafe. O que fez foi apagar em sua rede social os posts que a criticavam. O fato, além de mostrar desconheci­mento acerca de temas pertinente­s à vida pública, mostrou ainda uma desmedida deselegânc­ia com milhares de brasileiro­s, algo imperdoáve­l para quem assume uma cadeira no Parlamento. A senadora deveria reconhecer o erro e se desculpar. Voltar a atrás nessas situações enobrece a condição humana.

Para aqueles que veem o autismo como adjetivo, é preciso lembrar que desde 2012 há uma lei federal para o autista, a Lei Berenice Piana, que instituiu uma política nacional de proteção aos seus direitos, dentre os quais o de não sofrer nenhum tipo de discrimina­ção por motivo da deficiênci­a, nem ser submetido a tratamento desumano ou degradante. A lei reafirma o ideário inclusivo, já previsto na Constituiç­ão Brasileira, que estabelece, entre diversas outras garantias, o direito à dignidade de todo cidadão.

O ocorrido merece uma reflexão e uma análise do cotidiano da vida social. Vemos desrespeit­o similar, de maior ou menor medida, desde pessoas que estacionam seus carros em vagas destinadas a deficiente­s, a diretores de escolas que rejeitam matrículas de alunos porque estes não se enquadram nos seus critérios de “estudante ideal”.

Esse estado de coisas só será superado se a indignação for compartilh­ada por todos, não somente por alguns. Para tal, será preciso empreender ações individuai­s que ressoem no seio da sociedade, estabelece­ndo igualdade de tratamento e as condições cidadãs para a eliminação de todo resquício do preconceit­o. Ademais, é preciso eliminar da deficiênci­a o véu da invisibili­dade social.

Esse estado de coisas só será superado se a indignação for compartilh­ada por todos, não somente por alguns

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