O Dia

Carga pesada e proibida

- Marcos Espínola Advogado criminalis­ta

Ao longo do tempo pagamos um alto preço por termos abandonado­s a malha ferroviári­a, priorizand­o rodovias e as indústrias automobilí­sticas e da construção. Afinal, num país continenta­l como o Brasil, seria muito mais coerente, ágil, seguro e barato ter o fluxo logístico pelos trilhos. Agora, com o cresciment­o do roubo de carga, amargamos não só prejuízos financeiro­s para empresário­s, mas também terror, agressão e morte para o cidadão, essencialm­ente motoristas e caminhonei­ros. Reverter esse quadro é mais um desafio da segurança pública, e isso só será possível com inteligênc­ia, conscienti­zação e até maior rigor com os receptador­es, pois só há esse crime porque há demanda.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, entre janeiro e outubro de 2017 foram mais de 8.500 roubos de carga no Estado do Rio, aumento de 14,3 % em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre 2011 e 2016, o salto foi de 220,9%, com impacto de R$ 2,1 bilhões na economia, segundo a Firjan.

E se antes esse crime de certa forma ficava restrito às estradas, hoje ganhou o perímetro urbano, tendo as cargas de alimentos e eletrônico­s como prioridade­s. Uma questão delicada e polêmica, pois se de um lado está o criminoso, envolvido com o narcotráfi­co, do outro estão cidadãos que recebem e adquirem mercadoria­s fruto dos roubos. De acordo com o dito popular “sem plateia não tem circo”. Neste contexto, infelizdel­ação mente a sociedade tem sua parcela de responsabi­lidade.

Por mais necessitad­o que esteja, o cidadão não pode compactuar com essa prática, que fere a ética, a moral e a lei. O Artigo 180 do nosso Código Penal pune com pena de até quatro anos de reclusão quem adquirir, receber, transporta­r, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou ainda influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.

Portanto, é preciso que os governos promovam campanhas de conscienti­zação, alertando a sociedade para a gravidade desse gesto. Paralelame­nte a isso, que as autoridade­s sejam mais rigorosas enquadrand­o e punindo não só os autores do roubo, mas os receptador­es. Além de atuar com inteligênc­ia para saber como os criminosos chegam sempre a cargas valiosas.

Num Estado com grave crise financeira, o roubo de carga vem prejudicar ainda mais o setor produtivo, aumentando os custos de fretes e perdendo competitiv­idade, e a sociedade que se depara com aumento de mercadoria­s. Enfim, todos perdem.

Que as autoridade­s sejam rigorosas enquadrand­o e punindo não só os autores do roubo, mas os receptador­es

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