Esquema em família
Ex-secretário de Obras do prefeito Eduardo Paes, Alexandre Pinto foi preso novamente ontem acusado de ter R$ 6 milhões em propina no exterior. Segundo a PF, ele teria usado a mãe e os filhos para ocultar o desvio.
O ex-secretário de Obras do prefeito Eduardo Paes (MDB), Alexandre Pinto, preso ontem pela Polícia Federal, é acusado de usar a mãe e os filhos para ocultar propinas recebidas por obras do município. O Ministério Público Federal no Rio (MPF) identificou repasses feitos por empreiteiras contratadas para a construção da Transcarioca e a recuperação da bacia de Jacarepaguá - ambos projetos que não foram concluídos. De acordo com a denúncia, o ex-secretário recebeu R$ 305 mil em depósitos em dinheiro na conta poupança da mãe.
Pinto, que já tinha sido preso no ano passado e foi secretário entre 2009 e 2016, é acusado de vários crimes de lavagem de dinheiro. Em 2016, diz o MPF, ele transferiu imóveis para a Atlas Administração de Imóveis Próprios, empresa em nome de seus filhos, de 20 e 21 anos, que afirmam apenas ter assinado os papéis a pedido do pai. A propina combinada por Alexandre Pinto com as empreiteiras seria de 4% do valor das obras - 1% iria para o Tribunal de Contas do Município. O presidente do TCMRJ, Thiers Montebello, disse, em nota, desconhecer informações sobre a denúncia e que teve, com Pinto, reuniões “estritamente profissionais”.
O MPF identificou o pagamento de ao menos R$ 750 mil da Carioca Engenharia e R$ 750 mil da OAS para direcionar a licitação das obras da Transcarioca ao Consórcio Transcarioca Rio. Nas obras de recuperação da Bacia de Jacarepaguá, foram pagos pelo menos R$ 500 mil pela Carioca, segundo o MPF.
BELCHIOR NA MIRA
O ex-subsecretário Vagner de Castro Pereira e o doleiro Juan Bertran também foram presos. Bertran revelou que movimentava, a pedido de Pinto, valores de propina no exterior. Atualmente, o doleiro detém mais de R$ 6 milhões pertencentes ao cliente no exterior, valor que será restituído à Justiça Federal.
O esquema também incluía fornecedoras de materiais para as empreiteiras. “Foi identificada cobrança de propina relacionada às obras de restauração da Linha Vermelha; Programa Asfalto Liso; Transoeste; entorno do Maracanã; Transcarioca; e prestação de serviços relacionada às obras do Corredor Transbrasil por parte do Consórcio Dynatest-TCDI”, disse o procurador da República Eduardo El Hage.
Na operação foram cumpridos ainda 11 mandados de busca no Rio, entre os quais contra o ex-secretário de Conservação Marcus Belchior e o subsecretário Marco Aurélio Regalo de Oliveira, além de sete em outros estados.