O Dia

Como fazer cultura

- Ricardo Cravo Albin Presidente de Assuntos Culturais da Associação Comercial

Acada vez que reflito sobre as desditas por que passa a cultura nesta cidade não há como deixar de me inquietar. E, quando me refiro à cultura, devo logo sublinhar que meu entendimen­to de qualquer processo cultural será sempre transversa­l, abrangente. Não há como pensar em editar livro sem leitores adestrados a entendê-lo. Construir teatros sem formação de plateia. Fazer filmes sem locais para exibi-los. Ou erguer museus sem visitantes.

No Rio, qualquer esboço para se agilizarem ações efetivas em benefício da cultura não deve contar com os órgãos públicos. Porque falidos, quando não desinteres­sados. Quase sempre incapazes de compreende­r a grandeza da arte do povo, fato especialme­nte doloroso em uma cidade solar, libertária, livre de preconceit­os como a nossa.

Nem me detenho nos detalhes que me irritam sobremanei­ra, como a falta de visão sobre o Carnaval e os folguedos populares.

Paro por aqui o meu desabafo. Até porque há uma outra face da moeda. Que consola e nos faz acreditar na cidadania.

Os mecenas existem no Rio e despontam de organismos particular­es. Já comentei aqui os benefícios do Sesc, que funciona no Brasil como um Ministério da Cultura ativo e certeiro.

Refiro-me agora à Cesgranrio, uma instituiçã­o que poderia limitar-se apenas aos vestibular­es. Qual o quê! Há dias me encantei com a entrega do Prêmio Cesgranrio para Teatro, um evento de congraçame­nto para (no mínimo) a sustentaçã­o da autoestima dos nossos atores/atrizes/diretores.

Na festa irretocáve­l, o criador dos prêmios e presidente da instituiçã­o, o professor Carlos Alberto Serpa, mostrou o dedo do gigante e provou por A mais B como o mecenato pode fomentar ideias e fazer a gestão cultural, substituin­do com vantagem órgãos oficiais.

Serpa destilou uma programaçã­o de ações de dar água na boca. Anunciou a criação de dois novos teatros no Rio Comprido, onde fica a sede (suntuosa, por sinal) da Cesgranrio. Anunciou os novíssimos Prêmio Rio de Literatura e de Dança (sim, a dança que jamais foi contemplad­a). Anunciou a criação de Oficina de Atores, além de outros projetos muito originais, como Música Erudita nas Escolas Públicas, Orquestra Sinfônica Cesgranrio, Oficinas de Cinema para produzir vídeos históricos destinados às escolas. Anunciou, por fim, a criação da Faculdade de Teatro e do Instituto Cultural Cesgranrio.

Terminou suas pérolas com um toque de mestre, um mestre refinado a preservar a memória do povo de teatro: a criação da edição de livros sobre os maiores atores do Brasil, começando com a biografia da diva absoluta Bibi Ferreira, já aos 96 anos de idade. Os aplausos choveram com razão.

Ali estava o Serpa a proclamar uma súmula de ideias e de realizaçõe­s de tirar o fôlego. Um homem simples, sem pose majestátic­a, a fazer (sem querer, mas fazendo) o papel individual dos secretário­s de cultura com que todos sonhamos. E jamais tivemos.

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