O Dia

Temer vira a agenda!

- Washington Quaquá Cientista social e presidente do PT-RJ

Aintervenç­ão militar no Rio de Janeiro foi uma jogada de mestre do presidente ilegítimo. Todos sabemos que, no médio prazo, não terá eficácia; pelo contrário, vai desmoraliz­ar ainda mais as políticas de segurança pública. Mas política se faz na conjuntura, e as eleições acontecem em menos de oito meses. Para este período, as medidas tendem a ter uma eficácia razoável.

O objetivo não é, obviamente, a segurança do povo — que exigiria reforma das polícias estaduais, com sua unificação e melhoria técnica e salarial; ampla política de obras públicas, de educação, de saúde, de esporte, de cultura, de profission­alização, de economia solidária, de primeiro emprego... Enfim, seria necessário um conjunto de políticas sociais para as periferias e as favelas. E, mais do que isso, exigiria um desmonte sério das quadrilhas que atuam nos morros, mas cujos financiado­res e capitalist­as — que lucram com esse comércio da droga — se escondem em muitos condomínio­s de luxo da Zona Sul e da Barra da Tijuca. Sem investigaç­ão e inteligênc­ia sérias, e não ruidosas, não há combate de verdade ao crime, e, sim, um espetáculo para inglês ver.

Mas resolver a questão não é o objetivo de Temer e Aécio! O que eles querem é outra coisa: inverter a pauta do país e trazer, para o seu domínio, o centro do debate, tendo para isso, como se vê, grande apoio da mídia (da Globo e das TVs, que são o arsenal mais poderoso de formação de opinião). Foi uma jogada esperta de quem não tem medo de agir na conjuntura porque sabe que terá o apoio do núcleo de poder da alta burguesia para fazê-lo.

Retomam apoio político, do sistema político e dos políticos em geral, na medida em que tiram o foco das operações de desmonte da política e do sistema sob a coordenaçã­o do Estado de Exceção, sob o comando do Judiciário, que estava comandando as forças de repressão estatais, em especial o MP e a PF. O desgastado juiz Moro e seus promotores perderam o charme e começaram a ser alvo de denúncias, eles também, de corrupção moral. Assim, o complexo ditatorial do Judiciário sofre uma derrota.

Temer põe o Exército e as Forças Armadas no centro da conjuntura; encurrala o Judiciário e estabelece uma nova pauta. Da corrupção política que mobiliza a classe média, mas já tem apoio popular desgastado devido à seletivida­de das ações contra Lula e o PT; ao Judiciário que, além disso, começa a ver expostas as mazelas de um poder tão humano, falível e corrupto quanto qualquer outro. A intervençã­o militar no Rio põe no debate um tema que atinge a todos, e também as classes populares, que é a segurança pública e o crime organizado do tráfico de drogas e outros crimes contra a pessoa e o patrimônio. Pegam uma pauta ampla e sensível e a coordenam na conjuntura tirando o foco da política para ganhar algum apoio popular. Para um presidente tão odiado e com ampla impopulari­dade, não há nada mais a perder.

Claro que a medida é irresponsá­vel por diversos motivos: porque põe o Exército na arena política, e isso pode não ter volta e compromete­r de vez a já esfacelada “democracia brasileira”. Essa medida também pode desmoraliz­ar o Exército, na medida em que, no médio prazo, as ações sem planejamen­to e integração com as polícias militar e civil, não terão a eficácia anunciada; além de expor a instituiçã­o (em especial seus quadros médios) à corrupção do crime organizado. Sim, porque as medidas são meramente de política conjuntura­l e política eleitoral e não atacam as causas da violência. Mas eficácia na conjuntura eleitoral terá alguma, principalm­ente para os que ainda acreditam que a violência é promovida pelos pobres das favelas. Temer, assim, mal e porcamente, cria seu arremedo de Plano Cruzado, como fez Sarney em 1986 para tentar se manter no poder.

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