Final feliz para família de filho escondido em mala
Marfinense pagou para trazerem o caçula à Espanha, mas viagem foi insalubre
Ahistória do menino marfinense escondido em uma mala para tentar chegar à Europa em 2015 teve final feliz ontem em Ceuta: seu pai foi condenado a uma pequena multa, e sua família poderá viver na Espanha. “Tudo acabou, vamos começar a reviver, todos juntos, minha esposa, minha filha, meu filho e eu em Bilbao”, reagiu Ali Ouattara, aliviado, na saída da audiência.
Em 7 de maio de 2015, em um posto de fronteira em Ceuta, uma mala rosa arrastada com dificuldade por uma jovem marroquina foi submetida ao controle por scanner. Os guardas descobriram na tela a silhueta de uma criança em posição fetal: algo jamais visto neste posto de controle da cidade autônoma espanhola de Ceuta — no norte de Marrocos —, uma das duas fronteiras terrestres entre a África e um território da União Europeia.
A promotoria havia solicitado inicialmente três anos de prisão contra o pai do menino, Ali Ouattara, de 45 anos. “A vida da criança foi colocada em perigo, encolhido em mala sem ventilação”, declarou o presidente do tribunal, Fernando Teson, resumindo um argumento da acusação.
No entanto, o Ministério Público só requisitou uma multa, constatando que a audiência não havia provado que o réu “sabia como seu filho seria introduzido no país”. Os três juízes o condenaram a multa de 92 euros (R$ 370), levando em conta o fato de ter
um mês preso.
Eles tomaram a decisão muito rapidamente depois de ouvir a criança de 10 anos. “Quem colocou você na mala?”, perguntou a tradutora do promotor. “Uma menina marroquina”, respondeu Adou em francês. “Como ele disse que você cruzaria a fronteira?”, continuou. “De carro”, afirmou, acrescentando que o pai não havia falado sobre malas.
A SAGA
Ex-professor de Filosofia e Francês em Abidjan, Ali chegou à Espanha em 2006 de forma ilegal a bordo de barco improvisado. Sua Costa do Marfim estava em plena crise político-militar. Ele teve a chance de se instalar nas Canárias, mas demorou anos para obter autorização de residência, emprego estável e habitação.
Conseguiu trazer legalmente a esposa e a filha, mas não o mais novo, porque faltavam “56 euros por mês” para conseguir o rendimenpassado to exigido pela administração espanhola.
Ali afirmou ter pago cinco mil euros (R$ 20 mil) a uma rede de contrabandistas que inicialmente alegou que a criança viria facilmente, com um visto temporário, diretamente de avião de Abidjan para Madri.
O advogado do réu, Juan Isidro Fernandez, argumentou que, uma vez que a avó paterna morreu em Abidjan, Adou encontrou-se sozinho na Costa do Marfim.
Quanto à jovem que carregava a mala, continua sendo procurada pela Justiça, de acordo com o tribunal.