O Dia

Ensino do ‘golpe’ gera briga

UnB cria disciplina ‘O golpe de 2016’, e MEC entra na Justiça para barrar aulas

- > Brasília

OMinistéri­o da Educação (MEC) informou ontem que vai acionar o Ministério Público Federal para investigar os responsáve­is pela criação de uma disciplina da graduação na Universida­de de Brasília (UnB) que se propõe a estudar ‘O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil’, em referência ao impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Oferecidas pelo Instituto de Ciência Política (Ipol) da UnB, as aulas terão início em 5 de março e serão divididas em cinco blocos.

‘ExtEnsão do Pt’

Os temas abrangem desde o golpe militar de 1964, passando pelos anos Lula, os protestos de junho de 2013, o impeachmen­t de Dilma Rousseff em 2016 e os desdobrame­ntos do governo de Michel Temer — classifica­do na ementa como “ilegítimo”.

Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, o ofício também será enviado à Advocacia-Geral da União, à Controlado­ria-Geral da União e ao Tribunal de Contas da União para que seja analisada a “legalidade” da nova disciplina.

“Não é possível que no âmbito de uma universida­de pública alguém possa aparelhar uma estrutura para defender ideias do PT ou de qualquer outro partido. Estão transforma­ndo o curso numa extensão do PT e dos seus aliados. O partido não pode usar recursos públicos e a estrutura da UnB para propagar mentiras”, afirmou o ministro.

A UnB rebateu Mendonça Filho e informou que a disciplina é facultativ­a e que a instituiçã­o tem autonomia para propor e aprovar conteúdos. Além disso, reiterou “compromiss­o com a liberdade de expressão e opinião — valores fundamenta­is em um Estado democrátic­o.”

O coordenado­r da disciplina, o professor titular Luis Felipe Miguel, também contestou as alegações. No Facebook, ponderou que “trata-se de uma disciplina corriqueir­a”. Tenho razões, que creio muito sólidas, para sustentar que a ruptura ocorrida no Brasil em 2016 se classifica como golpe. Não vou, no en- tanto, justificar escolhas acadêmicas diante de Mendonça Filho ou de seus assessores, que não têm qualificaç­ão para fazer tal exigência.”

dILMA sE PRonUnCIA

Nas redes sociais, a ex-presidente Dilma manifestou solidaried­ade ao professor. “Impedir que se chamem os fatos e acontecime­ntos pelo nome é reação típica dos regimes de exceção, os maiores inimigos da cultura e da Educação. No passado, durante a ditadura, era proibido dizer que havia presos políticos no Brasil, embora eles enchessem os presídios país afora”, publicou a afastada.

Já a Associação Brasileira de Ciência Política lançou nota de “repúdio à violência contra a liberdade”. “Se a intenção manifesta do ministro se concretiza­r, o ato não poderá ser avaliado de outra forma, se não como censura.”

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REPRODUçÃO DO FACEBOOk Luis Felipe defende a autonomia universitá­ria e critica o MEC, que é contra a matéria sobre o ‘golpe’
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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO CONTEÚDO

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