O Dia

Engravidou donzela e fugiu para não morrer

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‘Da minha porta, vejo o mundo’ recebeu um tratamento de luxo. O livro, que conta a história de 12 porteiros que vieram do Nordeste para o Rio, tem capa dura e é bilíngue (português-espanhol). O projeto gráfico é da designer Raquel Cordeiro, e as fotos, do consagrado Paulo Marcos de Mendonça Lima.

Mas a riqueza das histórias de vida é que dão beleza especial à obra. Como a de Amadeu Ramos Matias, que veio fugido para o Rio, em 1981, quando tinha 17 anos, porque engravidou uma moça. O pai da donzela, proprietár­io de uma espingarda, queria lavar a honra com sangue. De acordo com Aydano Motta, que, junto com o jornalista Maurício Fonseca, entrevisto­u os personagen­s, quando Seu Amadeu chegou ao Rio não sabia nem segurar uma vassoura, pois trabalhava na lavoura. “Hoje é chefe da portaria, manda em 15 empregados e construiu um prédio de quatro andares, em Rio das Pedras. É dele!”, afirmou Motta, que destaca o caráter empreended­or de boa parte dos porteiros. “Todos também têm um mesmo desejo, que é voltar para a terra natal. Geralmente, lugar pequeno, escondido. Porém, isso acaba gerando um conflito de gerações, porque os filhos que nascem no Rio não querem ir”.

O personagem mais idoso do livro é Severino Pereira Ramos, 83 anos, que chegou ao Rio em 1951, vindo de Taperoá, Paraíba. “Foram 16 dias de viagem no pau de arara!”, disse Motta. Assim que chegou, Severino trabalhou em obra, mas foi demitido. Sem ter onde dormir, lhe restou o cemitério. “Naquela época, os velórios viravam a noite. Ele entrou na capela mais vazia do Caju, fingiu que conhecia o defunto, sentou no banco e dormiu”. O mais jovem, Josias, tem 26 anos e veio de Pernambuco para o Rio, em 2007, de avião.

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