200 quilos de feijão por passagem para o Rio
Outro Francisco é proprietário da cadeira de porteiro de um prédio. Francisco Vieira dos Santos, 55, trabalha no hall do Edifício Cristal, em Vila Isabel, há 31 anos. Veio fugido da seca, que castigava o Município de Ipueiras, distante seis horas de ônibus de Fortaleza, no Ceará.
“Eu tinha 21 anos e era muito inquieto”, lembrou Francisco, que trabalhava na roça. “Éramos 12 irmãos, na lavoura de milho, feijão e mandioca. Só que na seca a planta não desenvolve”, explicou Francisco, justificando a migração: “Na roça, a gente não morre de fome, mas tem que sair pra procurar coisa melhor”.
Para comprar a passagem só de ida para o Rio, Francisco teve que vender 200 quilos de feijão. Logo que chegou, empregou-se no Edifício Cristal, onde permanece até hoje. São 84 apartamentos e cerca de 250 moradores. Francisco conhece todos eles pelo nome. “Ele é um amigão. Sem o Francisco, o prédio não funciona. Aqui, moram muitos idosos e, volta e meia, ele socorre um”, contou a síndica Romana Alves Correia, 65. “O segredo é respeitar as pessoas”, ensinou o porteiro, que é torcedor fanático do Flamengo. “Quando tem jogo e eu estou trabalhando, o jeito é ouvir no radinho. Mas a síndica autoriza”, se apressou em esclarecer.
Francisco é pai de um filho e tem uma netinha de oito meses. Mas, apesar de viver há 31 anos no Rio de Janeiro, nunca perdeu o vínculo com a terra natal. “Já voltei lá mais de dez vezes e sempre mandei dinheiro para minha mãe”, contou. Com o trabalho na portaria, Francisco comprou um apartamento na Pavuna. O prédio dele tem quatro andares, mas sem porteiro. “Não tem esse luxo, não”.
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