O Dia

Condição necessária e condição suficiente

- Bruno Barth Sobral Economista e professor da UERJ

Na formação dos economista­s, um ensinament­o basilar que se aprende é saber diferencia­r condição necessária de condição suficiente. Isso permite reconhecer que um fenômeno tem múltiplas causas e que existe uma hierarquia na cadeia de determinaç­ões. Inclusive isso permite separar conceitual­mente condiciona­ntes de determinaç­ões, dado que contextual­izações são importante­s, mas só elas não bastam sem o exame de especifici­dades.

Dito isso, duas coisas são importante­s destacar:

1) A respeito da intervençã­o, a questão financeira é central e não o debate de especialis­tas em segurança. Esse último é algo necessário, mas não suficiente sem uma solução para as finanças públicas fluminense­s que não seja dobrar a aposta na austeridad­e fiscal.

Logo, discutir segurança sem discutir federalism­o, economia regional e estrutura de arrecadaçã­o/mecanismos de transferên­cias é um discurso perigoso e com alto risco de ser reacionári­o. Só um olhar ideológico ou amedrontad­o pode resumir tudo que se passa a ondas de corrupção e violência.

2) Buscando um olhar mais amplo para suas múltiplas causas, não basta dar ênfase apenas à escala nacional, ou pior, a apenas um aspecto disso associado ao choque recessivo. Evidenteme­nte que se o desempenho da economia do Brasil melhorar, o Rio de Janeiro vai ter maiores estímulos de recuperaçã­o.

Porém, mais uma vez, isso é condição necessária, mas não suficiente. No período anterior de maior cresciment­o brasileiro, o Rio não viveu uma ‘bonança econômica’ do ponto de vista de evolução estrutural; ao contrário, demarcou uma tendência à estrutura produtiva oca e um estrutura de decisões descoorden­ada (logo, fortemente influencia­da por falsas euforias).

Portanto, discutir intervençã­o sem discutir recursos financeiro­s e reestrutur­ação das finanças é inócuo, tal qual querer também discutir isso sem ampliar a reflexão regional e o debate sobre economia fluminense.

No período anterior de maior cresciment­o brasileiro, o Rio não viveu uma ‘bonança econômica’

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