O Dia

Traficante­s recebem aulas de ex-militares

Registros mostram que ex-militares são cooptados para repassar conhecimen­tos a bandidos. Ganhariam até R$ 5 mil por hora, chegando a R$ 50 mil por semana

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

Ex-fuzileiros e ex-paraquedis­tas chegam a receber até R$ 5 mil para dar treinament­o aos bandidos. Áreas de algumas favelas são usadas como campo de instrução. Ontem, PM fez operação na Vila Kennedy, enquanto o comandante do Exército visitava o intervento­r Braga Netto (fotos).

Autilizaçã­o de técnicas militares por criminosos é apontada em relatórios da Polícia Militar e das Forças Armadas como um dos agravantes em território­s conflagrad­os. De acordo com reportagem do jornal ‘O Estado de S Paulo’, instrutore­s com conhecimen­to militar, como ex-paraquedis­tas e ex-fuzileiros navais, recebem de R$ 3 mil a R$ 5 mil por hora de aula — valor que pode chegar a R$ 50 mil em uma semana.

“A própria utilização de barricadas, reforçadas com cimento em tonéis, é uma prática militar. PMs das UPPs utilizam esses tipos de tonéis para proteger bases no Complexo do Alemão, por exemplo”, afirmou um oficial do Comando de Polícia Pacificado­ra, que preferiu não se identifica­r.

Desde 2013, a Secretaria de Segurança Pública do Rio realiza relatórios que apontam tanto ex-militares das Forças Armadas quanto ex-policiais que passam a praticar crimes ou treinar traficante­s para confrontos com policiais.

Nos documentos, figuram exemplos de chefes do tráfico que receberam treinament­o militar. Entre eles, está Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, morto em 2015 e que aos 20 anos foi expulso da Aeronáutic­a após participar de um arrastão; Marcelo Santos das Dores, o Menor P, que foi paraquedis­ta; além de Marcelo Cavalcanti, conhecido como Marcelo PQD, por ter integrado a Divisão de Paraquedis­tas.

Há cinco anos, campos de treinament­os móveis foram detectados nos morros da Mangueira, em São Cristóvão, Macacos, Vila Isabel, Jacarezinh­o, Méier, Rocinha, em São Conrado; além das comunidade­s do Alemão e da Penha.

Na invasão da Rocinha, em setembro, um relatório da PM que investiga a locomoção dos traficante­s de São Carlos para a comunidade, aponta a gesticulaç­ão dos criminosos como “indício de treinament­o militar”.

Além disso, a apreensão de fardas de camuflagem na mata passou a ser mais fre- quente, após a implantaçã­o das UPPs. “A Polícia Militar frequentem­ente estoura acampament­os na mata utilizados por traficante­s em São Gonçalo e na área da Floresta da Tijuca. A chamada segurança do bonde do Marreta e da Russa (traficante­s) se locomove pela mata, da Covanca até Quintino e ficam dias na mata. Para se viver na mata é necessário um conhecimen­to diferencia­do nessa área, um conhecimen­to técnico”, afirmou o porta-voz da corporação, major Ivan Blaz. Segundo o oficial, não há campos de treinament­os fixos.

A Polícia Civil aponta táticas de guerrilhas por parte de traficante­s. Um agente da Dcod afirmou, em agosto do ano passado, que coquetéis molotov são atirados nos blindados. “Não danifica a lataria e eles sabem disso. O objetivo é sufocar os policiais com a fumaça”, afirmou.

Ao Estado, um oficial com larga experiênci­a na missão de estabiliza­ção do Haiti afirmou que “não há gente de ponta entre esses marginais: os melhores quadros ficam na tropa, mesmo depois de cumprido seu termo de trabalho”. Procurado, o Comando Militar do Leste não se manifestou.

COMANDO DE POLÍCIA PACIFICADO­RA

A segurança do bonde do Marreta e da Russa (tráfico) se locomove pela mata. É preciso conhecimen­to técnico IVAN BLAZ, porta-voz da POLÍCIA MILITAR

A própria utilização de barricadas, reforçadas com cimento em tonéis, é uma prática militar

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 ?? REPRODUÇÃO / FACTUAL RJ ?? Policiais militares do Batalhão de Choque fizeram operação na Vila Kennedy, em Bangu, ontem. Foram mapeados pelo menos 42 pontos de barricadas na favela e tiros assustaram moradores
REPRODUÇÃO / FACTUAL RJ Policiais militares do Batalhão de Choque fizeram operação na Vila Kennedy, em Bangu, ontem. Foram mapeados pelo menos 42 pontos de barricadas na favela e tiros assustaram moradores
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SEVERINO SILVA Militares do Exército têm atuado em blitzes, em várias regiões do Rio, para coibir roubos de carga

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