“Levanto a bandeira há tanto tempo que estou com dor nas costas”
Na semana do Dia Internacional da Mulher, a craque Marta destaca a longa luta por melhorias no futebol feminino
Uma mulher que faz do futebol uma lição de vida. Essa é Marta, empoderada sim, mas acima de tudo arretada. Ao deixar o pequeno município de Dois Riachos, a alagoana ganhou o mundo. Estrela da Seleção e do Orlando Pride, dos Estados Unidos, a camisa 10 é a principal esperança do Brasil na busca de uma vaga na Copa do Mundo da França, em 2019, e nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. A Copa América do Chile, em abril, é a porta de entrada do país. Tão importante quanto a classificação é a oportunidade de atrair os olhos do mundo para o futebol feminino, em condições mais justas e igualitárias ao masculino. Essa é a incansável briga de Marta & cia.
“Levanto a bandeira há tanto tempo que estou com dor nas costas (risos). Essa bandeira a gente decidiu levantar desde o primeiro momento que resolveu jogar futebol. Isso vai trazer muitos comentários maldosos, vai ser mal repercutido, vai ter uma resistência muito grande, as pessoas não vão aceitar. É uma luta constante. Mas a gente sente que veio a esse mundo para lutar contra esse tipo de coisa”, disse Marta.
Em entrevista ao Ataque, na Granja Comary, Marta, aos 32 anos, já sente as mudanças no corpo, mas garante que não pensa em aposentadoria. Sem prazo, a camisa 10 admite que a recuperação pós-jogos é mais lenta e os cuidados com a parte física aumentaram. Nada que intimide a jogadora eleita cinco vezes a melhor do mundo.
“Na verdade, não é a idade. Quando você chega a um certo ponto da sua carreira como atleta, está exposta a lesões, a várias coisas que vêm contigo no decorrer da sua vida, mas às vezes se manifestam depois dos
“Tem que colocar em prática as ideias, abrir mais portas para as mulheres não só no futebol feminino, mas em todas as áreas”
30. Eu trinquei o meu disco e sinto dores nas costas todos os dias. É uma coisa que eu tenho que lidar. Não posso extrapolar muito na questão de abusar do meu corpo, fazer muita coisa o dia inteiro, porque eu vou sentir muito depois. Até faço porque nem sempre você tem opção de ‘esse campo está muito duro, não dá para eu jogar’. Mas normalmente quando a gente pega um campo em que o piso é muito duro você sente mais no dia seguinte”, revelou Marta. Com mais de 100 jogos com a Amarelinha, Marta já perdeu a conta de quantas vezes esteve na Granja Comary. Mas reconhece que muita coisa mudou desde as primeiras convocações. A criação de seleções de base, como a sub-17, que se prepara para a disputa do Sul-America- no da Argentina, é um avanço. Assim como a estrutura, que atualmente conta até com o uso de drones para monitorar o treinamento. Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das jogadoras que atuam no Brasil.
“Melhorou, mas tem algumas coisas que precisam melhorar. Tem que colocar em prática as ideias, abrir mais portas para as mulheres não só no futebol feminino, mas em todas as áreas. Aqui no nosso trabalho, a gente vê que é nítida a diferença de 15 anos atrás, quando eu comecei com a Seleção, para o que a gente tem hoje. A Seleção sub-17, a Seleção sub-20... A gente vê com mais frequência as mulheres participando da comissão técnica, do departamento médico. Isso é uma vitória que a gente batalhou muito para conquistar. Temos que usufruir e expandir isso”, avaliou.
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, quintafeira, Marta é a voz de resistência no país do futebol, que, infelizmente, ainda não trata de maneira igual mulheres e homens no esporte.
“Não posso extrapolar muito na questão de abusar do meu corpo, fazer muita coisa o dia inteiro porque eu vou sentir muito depois”