‘Cria’ do Parque Esperança
Do futebol nas ruas do Complexo da Maré, na infância, à militância pelo respeito aos direitos nas comunidades
Socióloga, dançarina de funk, vereadora, mãe. Apesar das diversas facetas de Marielle Franco, assassinada aos 38 anos na quarta-feira, a luta pelas causas sociais fez parte da vida da cria do Complexo da Maré desde a adolescência. A militante da Educação e dos Direitos Humanos tornou-se a quinta mais votada nas eleições para a Câmara em 2016, com mais de 46 mil votos.
Durante a infância, Marielle gostava de brincar nas ruas da comunidade. Bolinha de gude e futebol estavam entre os passatempos preferidos. Vinda de família católica, foi dançarina da Furacão 2000, e era aberta a todas as manifestações religiosas. “A fé dela ia desde o terço até a guia que a mãe de santo fez”, contou a amiga Michele Lacerda.
Morou até os 15 anos no Conjunto Esperança. Quando terminou o ensino médio, em 1998, inscreveu-se no pré-vestibular comunitário da Maré, mas três meses depois teve que abandonar o curso devido à gravidez que proporcionou a sua única filha, Luyara, hoje com 19 anos.
Depois da gestação, ela voltou ao curso de pré-vestibular. Nesse momento, um fato marcou definitivamente sua vida. A morte da amiga Jaqueline, vítima de uma bala perdida durante um confronto entre policiais e traficantes na Maré, fez com que Marielle se envolvesse com os grupos que militavam por Direitos Humanos. Em 2002, foi aprovada com bolsa integral no curso de sociologia da PUC, e posteriormente fez mestrado em Administração Pública na UFF com a dissertação “UPP: redução da favela a 3 letras”.
Durante sua militância em Direitos Humanos, conheceu o deputado estadual Marcelo Freixo e entrou para a equipe do parlamentar em 2007. Foi assessora atuando em favelas, depois fez parte da Comissão de Direitos Humanos até chegar à coordenação do órgão. “Ela sempre foi muito ligada às questões de comunidades, no dia das crianças do ano passado, por exemplo, presenteou 300 crianças com bolo e refrigerante”, lembrou o ativista Pablo Rodrigues, que atuou como líder comunitário na favela de Acari.
Em 2016, após quase dez anos dedicados à militância, se candidatou ao cargo de vereadora pelo Psol e foi saudada como uma esperança de renovação da política na cidade. “Marielle se lançou candidata pela necessidade
Ela sempre foi muito ligada às questões das comunidades. No Dia das Crianças do ano passado, por exemplo, presenteou 300 crianças com bolo e refrigerante” PABLO RODRIGUES, líder comunitário
de mulheres estarem na política, para combater o racismo, para mostrar que uma mulher negra e favelada pode ocupar espaços de poder”, explicou o companheiro de partido Tarcísio Motta.
No Carnaval desse ano, Marielle foi uma das criadoras da iniciativa que buscava combater o assédio com o slogan “Não é não”. Leques com a frase foram distribuídos em diversos blocos e muitas mulheres pintaram a frase na própria pele. A frase acabou se espalhando pelos blocos do Brasil inteiro.
A vereadora morava há pouco mais de um ano numa vila na Tijuca, com a namorada Mônica Benício e da filha Luyara Santos.