O Dia

POLÍCIA MATA OITO EM AÇÃO NA ROCINHA

Pelo menos oito pessoas foram mortas a tiros. PM diz que foi atacada, mas familiares de mortos negam

- ALINE CAVALCANTE aline.cavalcante@odia.com.br JONATHAN FERREIRA jonathan.jonathan@odia.com.br

PM diz que agentes do Batalhão de Choque foram atacados por criminosos durante patrulhame­nto, ontem cedo, na localidade Roupa Suja. As famílias de pelo menos duas das vítimas afirmam que eles não tinham ligação com o crime e que a polícia chegou atirando ao fim de um baile funk. De acordo com a corporação, seis dos mortos eram traficante­s.

Pelo menos oito pessoas foram mortas a tiros ontem na Rocinha. Segundo a Polícia Militar, homens do Batalhão de Choque realizavam patrulhame­nto na localidade conhecida como Roupa Suja, nas primeiras horas da manhã, quando foram atacados por bandidos e revidaram. Após informar, ainda pela manhã, que todas as vítimas eram traficante­s que atiraram nos PMs, no fim da tarde, a corporação publicou, pelo Twitter, uma errata em que afirmava que seis criminosos foram socorridos pelos policiais após tiroteio. As famílias de pelo menos dois dos mortos afirmam que eles não tinham ligação com o crime e que a polícia teria entrado na comunidade atirando, pouco depois do término em um baile funk.

De acordo com a Polícia Civil, seis baleados foram levados para o Hospital Miguel Couto e morreram na unidade de saúde. Outros dois corpos foram levados por moradores até a passarela. PMs envolvidos na ação foram ouvidos na Delegacia de Homicídios. Segundo informaçõe­s não oficiais, o número de mortos pode chegar a nove. A Secretaria Municipal de Saúde informou que chegaram sete baleados ao Hospital Miguel Couto e que todos morreram.

Os PMs informaram que, com os baleados, foram apreendido­s um fuzil, seis pistolas e uma granada. A ação aconteceu três dias após o policial militar Filipe Mesquita, 28, e o morador Antônio Ferreira, conhecido como Marechal, terem mortos a tiros na comunidade.

PMs apreendera­m fuzil e seis pistolas. Parentes de duas vítimas alegam que eles eram inocentes

Júlio Morais de Lima, de 23 anos, foi um dos mortos cuja família afirma não ter envolvimen­to com o tráfico. A irmã do rapaz, que pediu para não ser identifica­da, afirma que Júlio trabalhava como auxiliar de serviços gerais em uma churrascar­ia. “Meu irmão não era envolvido com o crime. Ainda não sabemos se ele foi morto quando saía ou chegava em casa. Mas, vamos atrás de justiça para provar a inocência do meu irmão”, disse.

A mãe de Matheus da Silva Duarte de Oliveira, de 19, que também foi morto, disse que o filho tinha acabado de sair do baile funk quando foi baleado. “Eles chegaram atirando. Ele foi atingido com um tiro pelas costas, não teve chance. Meu filho tinha família, era doce, um filho maravilhos­o. Só Deus sabe o que eu estou sentindo, dói muito. O Matheus teve a vida interrompi­da, os planos. Isso tem que acabar, esta situação precisa dar um basta. Eu tenho consciênci­a de que PM tem família, mas os policiais não têm essa consciênci­a de que morador de favela também tem família.”

A mãe de Matheus disse que iria ontem buscar o filho, que morava com a avó na Rocinha, para que ele fosse viver com ela em Santa Cruz por causa da preocupaçã­o com a violência. Ela conta que o jovem participav­a de um grupo que dançava valsa em festas de debutantes e, com isso, ganhava dinheiro enquanto procurava emprego. “Estamos revoltados e tristes porque ele era um menino alegre e do bem. Esta é a realidade, onde preto e favelado morre mesmo sendo inocente”, desabafou Alexander Izaías, fundador do grupo em que Matheus dançava.

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JOSE LUCENA / ESTADÃO CONTEÚDO Após o tiroteio, os policiais militares dizem ter levado seis baleados para o Hospital Miguel Couto, na Gávea
 ?? MAÍRA COELHO / AGÊNCIA O DIA ?? A Polícia Militar enviou uma coroa de flores a Marechal, assassinad­o na quarta-feira, na Rocinha
MAÍRA COELHO / AGÊNCIA O DIA A Polícia Militar enviou uma coroa de flores a Marechal, assassinad­o na quarta-feira, na Rocinha
 ?? JOSE LUCENA / ESTADÃO CONTEÚDO ?? Mulher ensanguent­ada fala com policial militar após os tiroteios ocorridos na manhã de ontem
JOSE LUCENA / ESTADÃO CONTEÚDO Mulher ensanguent­ada fala com policial militar após os tiroteios ocorridos na manhã de ontem
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Os baleados foram levados para o Miguel Couto, onde morreram
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REPRODUÇÃO FOTO: DANIEL CASTELO BRANCO Júlio trabalhava em churrascar­ia
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REPRODUÇÃO / FACEBOOK Matheus Silva dançava em bailes

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