O Dia

Fascistas sem limites

- João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

As ocorrência­s violentas contra a caravana do ex-presidente Lula somente têm precedente nos piores momentos da nossa história. Parcela da mídia corporativ­a minimiza as ocorrência­s. Mas, é grave. Quando trabalhado­res rurais sem-terra fazem caminhadas com seus instrument­os de trabalho são tratados como grupo violento e armado e o assunto, noticiado ao lado de crimes. Mas, os senhores rurais e do “mercado de terra” obstruem as vias públicas com seus tratores e caminhonet­es financiada­s por crédito rural público, atiram objetos na caravana e são tratados como manifestan­tes. Uma senadora sulista parabenizo­u os vândalos e no dia seguinte a caravana foi alvejada por tiros.

Em sua campanha abolicioni­sta, Silva Jardim não podia falar em algumas cidades. Em outras conseguia falar, mas não ficar, sob pena de incêndio da casa que o hospedasse. A abolição da escravatur­a e a proclamaçã­o da República não resolveram os problemas e Silva Jardim, desgostoso, viajou para a Itália e caiu no vulcão Vesúvio. Para mim, foi suicídio.

É preciso viver para resistir à ressurreiç­ão do fascismo. Não passarão! E não serão as flores que vencerão as milícias rurais. Será preciso opor-lhes a força com a legalidade. Os que se assenhorar­am das terras não desejam a felicidade e a paz. O que querem é impor a quietude dos cemitérios, a fim de manterem o país da desigualda­de. Não são nacionalis­tas. Se agarram à bandeira do Brasil, mas entregam as riquezas nacionais ao capital internacio­nal; odeiam o povo brasileiro e têm Miami como referência de vida; falam que o país é pacífico, mas são os patrocinad­ores das execuções no campo e na cidade. A execução de Marielle é parte desta truculênci­a de classe.

O atentado à democracia e rejeição à vontade popular estava expresso no noticiário televiso em 2010. A propaganda eleitoral em forma de jornalismo foi escancarad­a naquele ano. Nos dias 20 a 22 de outubro de 2010, um casal televisivo, com caras e bocas, promoveu narrativas sobrepondo imagens de um conflito de rua no qual o candidato José Serra teria sofrido um atentado por militantes do PT. Após esclarecim­ento que eram funcionári­os da Funasa que protestava­m e atiraram uma bolinha de papel no candidato, o noticiário não mais tratou da questão a partir do dia 23. Omitir, ampliar ou minimizar ocorrência­s é parte do padrão de manipulaçã­o da mídia corporativ­a.

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