O Dia

Uma luta da Humanidade

- Cid Benjamin Jornalista

Exagerar quando se faz uma denúncia é sempre contraprod­ucente. Por isso, é preciso cuidado quando se diz que, no Brasil, há genocídio de negros, ainda que a violência policial contra os pobres os atinja majoritari­amente.

Mas genocídio é diferente disso: é o extermínio deliberado de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. No século XX tivemos três exemplos.

O primeiro foi o perpetrado por turcos, ao matarem 1,5 milhão de armênios entre 1915 e 1923.

Depois veio o Holocausto, quando o nazismo vitimou seis milhões de judeus, além de outros tantos soviéticos, democratas e socialista­s, durante a Segunda Guerra Mundial.

E, por fim, o ocorrido em Ruanda, em 1994, quando, num conflito étnico, hutus assassinar­am entre 500 mil e um milhão de tutsis.

Não há, no Brasil, situação seme- lhante. E, repito, isso não significa desconhece­r a violência contra os pobres, majoritari­amente negros, nem a existência de racismo, o mais repulsivo comportame­nto que um ser humano pode ter em relação a outro.

É positivo que negros, mulheres e gays, entre outros, tragam suas pautas específica­s para o debate. O chamado “lugar de fala” e a ampliação dos espaços para a expressão desses segmentos vieram em boa hora. Mas devem ser entendidos assim, como mais espaços para que se expressem. Não devem calar outros segmentos. Até porque a adesão deles só fortalece a luta contra a discrimina­ção.

Vivemos numa sociedade de classes e os negros são a maior parte da massa de trabalhado­res. Como há um imenso exército industrial de reserva, a eliminação de uma parcela desse exército não traz problemas para as classes dominantes. Daí a vida de pobres e negros valer tão pouco.

Marielle Franco era negra, mulher e bissexual. Mas, quase certamente, foi morta por denunciar a violência policial contra os pobres. Dentre estes, a maioria é de negros, mas há mestiços e descendent­es de índios ou de nordestino­s, também alvos da violência contra os pobres, devido ao apartheid social.

Essa questão às vezes é mal compreendi­da. Houve quem acusasse o PSol de racista e machista pelo fato de Marielle não estar com seguranças. Ou que vaiasse o senador Lindberg Farias por ele, homem e branco, discursar no ato sobre Marielle.

Não é esta a melhor forma de se enfrentar a discrimina­ção. Essa luta não é apenas dos negros, mulheres ou LGBTs.

É da Humanidade.

“É positivo que negros, mulheres e gays, entre outros, tragam suas pautas específica­s para o debate”

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