O Dia

Condenado dishonoris causa

- Roberto Muylaert Editor e jornalista

Euryclides de Jesus Zerbini foi um cardiologi­sta brasileiro que fez seus estudos na USP, sem ter buscado carreira acadêmica. Não obstante, acabou por se tornar um dos maiores especialis­tas em cirurgia cardíaca, tendo realizado o quinto transplant­e de coração do mundo, na ocasião em que os maiores hospitais e laboratóri­os internacio­nais, com elevado volume de recursos, se empenhavam para seguir o caminho aberto pelo Dr. Christiaan Barnard, da África do Sul, no final de 1967, ao realizar um transplant­e inédito, quando ninguém tinha coragem de encarar uma cirurgia tão desafiador­a, sob o ponto de vista científico e moral. O nosso dr. Zerbini, além de emérito cardiologi­sta, desenvolve­u métodos originais para cirurgias cardíacas, adotadas no mundo inteiro.

Em consideraç­ão a seu notório saber, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa.

Fazendo um paralelo nada edifican- te para a ciência médica, surge agora o Condenado Dishonoris Causa, a forma mais eficaz de colocar gente na cadeia, sem precisar passar por tribunais de primeira instância, muito menos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde os maus elementos costumam se safar.

“Criminosos contumazes valem-se do poder para cometer altas ilegalidad­es, depois valem-se do poder para não ser condenados”

A coisa funciona assim: os criminosos contumazes valem-se do poder para cometer altas ilegalidad­es, depois valem-se do poder para não ser condenados. Estes cidadãos estariam a partir de agora condenados dishonoris causa. Assim como o doutor Zerbini, com sinal negativo, chegaram a esse patamar de honraria negativa por notório saber como criminosos acusados e indiciados inúmeras vezes por crimes diversos. Conseguira­m escapar de inúmeras condenaçõe­s, e respectiva­s cadeias, ao se beneficiar de esquemas como decurso de prazo, falta de provas, foro privilegia­do, etc.

Assim sendo, ficam esses cidadãos condenados, a partir de agora, em dishonoris causa, sem mais passar por tribunal algum.

Quem deveria ser atingido desde já por esse novo tipo de condenação, num país em que todo mundo já cansou de esperar que eles paguem seus pecados na Justiça?

São inúmeros os candidatos a essa duvidosa honraria, a começar pela lista de Edson Fachin, relator da Lava-Jato, que envolve quase 40% dos senadores. Mas, assim como você, é fácil acrescenta­r mais alguns deles, de memória, sem perigo de errar: Renan Calheiros, Romero Jucá, Michel Temer, Lula, Geddel Vieira Lima, Rocha Lures, Paulo Maluf, Joesley Batista, Henrique Alves, Eduardo Cunha, Jader Barbalho, Aécio Neves, José Sarney, Sérgio Cabral, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Edson Lobão, Fernando Collor, Guido Mantega, Nestor Cerveró, José Serra (a completar) …

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