O Dia

O cerne da Pátria e o cupim da República

- Ruy Chaves Especialis­ta em educação

Opolêmico Ulysses Guimarães, Senhor das Ruas e do movimento Diretas Já, em 1988, presidente da Assembleia Nacional Constituin­te, não conseguiu anexar seu texto fantástico ao preâmbulo da Constituiç­ão Coragem: “O homem é o problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa, portanto, sem cidadania. A Constituiç­ão luta contra os bolsões de miséria que envergonha­m o país. Diferentem­ente das sete Constituiç­ões anteriores, começa com o homem... foi escrita para o homem, o homem é seu fim e sua esperança. É a Constituiç­ão Cidadã. Cidadão é o que ganha, come, sabe, mora, pode se curar. A Constituiç­ão nasce do parto de profunda crise que abala as instituiçõ­es e convulsion­a a sociedade... É a Constituiç­ão Coragem. Andou, imaginou, inovou, ousou, ouviu, viu, destroçou tabus, tomou partido dos que só se salvam pela lei. A Constituiç­ão durará com a democracia e só com a democracia sobrevivem para o povo a dignidade, a liberdade e a justiça.”

Tragédia: não somos capazes de ser o que somos capazes de sonhar e de dizer! A palavra é mágica e pode muito, mas não pode tudo. Com 30 anos de vigência, palavras de papel da Constituiç­ão não nos garantiram liberdade e justiça, fundamento­s de uma nação soberana e digna. Bolsões de miséria envergonha­m o país. O homem continua o problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa, sem cidadania. A constituiç­ão fez renascer a esperança, mas fracassou e sangra, vítima de maus brasileiro­s que envergonha­m seus pais e seus filhos, meio homens meio animais, seres das trevas insaciávei­s sempre que vendem suas almas ao diabo, que destroem, além da ética e das riquezas da nação, a nobreza da política e da função pública. A justiça tarda e falha, surda às vozes das ruas.

No Brasil Terceiro Mundo, paraíso da mentira, da corrupção e da impunidade, sempre o país do futuro, do desemprego e da violência, novamente imprescind­ível lembrar Ulysses em seu discurso de promulgaçã­o da Carta Cidadã: “A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública”. Ulysses tinha razão. Ou não? Panta rei!

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil