Polícia Civil prende grupo suspeito de atuar em várias favelas no comércio de mercadorias roubadas
Golpe em quadrilha de roubo de cargas
Em várias favelas da capital fluminense e Região Metropolitana, 12 integrantes de uma quadrilha se uniam a diversas facções criminosas para planejar e executar roubos a caminhões de carga. Eles acompanhavam a execução dos assaltos — da escolha do caminhão e o caminho percorrido até a chegada dos produtos nas comunidades —, subornavam agentes de Segurança Pública, negociavam os valores das mercadorias, armazenavam os produtos em suas próprias residências e anunciavam as vendas em redes sociais e entre sua rede de receptadores.
As informações, descobertas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil ao longo de dez meses de monitoramento das atividades da quadrilha, foram divulgadas ontem após a deflagração da ‘Operação Expugno’, feita em vários bairros. Foram presos cinco dos 12 procurados por integrar a organização, além de outros dois suspeitos de receptação — um em flagrante e um com prisão previamente decretada. Outro suspeito, que não faz parte da quadrilha, foi morto por policiais ao resistir à prisão na comunidade Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste. Na mesma comunidade, 200 kg de maconha em tabletes foram apreendidos.
“Eles iam a favelas de qualquer facção, fotografavam a mercadoria e revendiam a outros receptadores. Essas mercadorias são de qualquer tipo, incluindo bebidas, comidas, eletrodomésticos e remédios, porque muitas vezes eles roubavam a carga sem saber o que é”, explicou o delegado Delmir Gouvea. Em gravações de escutas telefônicas usadas na operação, os suspeitos falam sobre a negociação de preços e anúncio das mercadorias. Nos áudios, a polícia também flagra os suspeitos se comunicando durante uma fuga após o roubo de um caminhão — eles discutem dizendo que suas liberdades estão em jogo, e depois comemoram dizendo estar ricos.
GRANDE DISTRIBUIÇÃO
As investigações do Ministério Público apontam ainda que a quadrilha está especialmente vinculada ao Comando Vermelho, e tem controle do território das comunidades conhecidas como Picapau, Dick, Ficap e Furquim Mendes, na Zona Norte. “Os denunciados buscam angariar a simpatia, distribuindo guloseimas para as crianças das comunidades. Na proporção inversa, disseminam o medo de represálias, expulsando os moradores que desagradam os interesses da organização”, diz o texto da denúncia do MP.
Segundo as investigações, camelôs recebiam diárias para revender os produtos roubados em diversos pontos do Rio. “Esses produtos vão parar em comércios regulares e irregulares, camelôs, composições ferroviárias, qualquer lugar. É uma coisa monstruosa, a empresa perde, o seguro perde, o estado perde em arrecadação e a ação financia o tráfico e ações violentas”, comentou o delegado Delmir Gouvea. Ele disse ainda que agora a Polícia investiga traficantes em liberdade e também presos, inclusive em prisões federais, envolvidos nos crimes, além de tentar cumprir os sete mandados de prisão ainda em aberto contra os suspeitos de integrar a quadrilha.
Ao todo, foram registrados 10.599 casos de roubo de carga no ano passado, uma média de 29 por dia. Neste ano, em janeiro e fevereiro (últimos dados disponíveis), foram 1.719 casos registrados, um aumento de 18% em relação aos números dos dois primeiros meses de 2017.