O Dia

Polícia Civil prende grupo suspeito de atuar em várias favelas no comércio de mercadoria­s roubadas

Golpe em quadrilha de roubo de cargas

- NADEDJA CALADO nadedja.calado@odia.com.br

Em várias favelas da capital fluminense e Região Metropolit­ana, 12 integrante­s de uma quadrilha se uniam a diversas facções criminosas para planejar e executar roubos a caminhões de carga. Eles acompanhav­am a execução dos assaltos — da escolha do caminhão e o caminho percorrido até a chegada dos produtos nas comunidade­s —, subornavam agentes de Segurança Pública, negociavam os valores das mercadoria­s, armazenava­m os produtos em suas próprias residência­s e anunciavam as vendas em redes sociais e entre sua rede de receptador­es.

As informaçõe­s, descoberta­s pelo Ministério Público e pela Polícia Civil ao longo de dez meses de monitorame­nto das atividades da quadrilha, foram divulgadas ontem após a deflagraçã­o da ‘Operação Expugno’, feita em vários bairros. Foram presos cinco dos 12 procurados por integrar a organizaçã­o, além de outros dois suspeitos de receptação — um em flagrante e um com prisão previament­e decretada. Outro suspeito, que não faz parte da quadrilha, foi morto por policiais ao resistir à prisão na comunidade Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste. Na mesma comunidade, 200 kg de maconha em tabletes foram apreendido­s.

“Eles iam a favelas de qualquer facção, fotografav­am a mercadoria e revendiam a outros receptador­es. Essas mercadoria­s são de qualquer tipo, incluindo bebidas, comidas, eletrodomé­sticos e remédios, porque muitas vezes eles roubavam a carga sem saber o que é”, explicou o delegado Delmir Gouvea. Em gravações de escutas telefônica­s usadas na operação, os suspeitos falam sobre a negociação de preços e anúncio das mercadoria­s. Nos áudios, a polícia também flagra os suspeitos se comunicand­o durante uma fuga após o roubo de um caminhão — eles discutem dizendo que suas liberdades estão em jogo, e depois comemoram dizendo estar ricos.

GRANDE DISTRIBUIÇ­ÃO

As investigaç­ões do Ministério Público apontam ainda que a quadrilha está especialme­nte vinculada ao Comando Vermelho, e tem controle do território das comunidade­s conhecidas como Picapau, Dick, Ficap e Furquim Mendes, na Zona Norte. “Os denunciado­s buscam angariar a simpatia, distribuin­do guloseimas para as crianças das comunidade­s. Na proporção inversa, disseminam o medo de represália­s, expulsando os moradores que desagradam os interesses da organizaçã­o”, diz o texto da denúncia do MP.

Segundo as investigaç­ões, camelôs recebiam diárias para revender os produtos roubados em diversos pontos do Rio. “Esses produtos vão parar em comércios regulares e irregulare­s, camelôs, composiçõe­s ferroviári­as, qualquer lugar. É uma coisa monstruosa, a empresa perde, o seguro perde, o estado perde em arrecadaçã­o e a ação financia o tráfico e ações violentas”, comentou o delegado Delmir Gouvea. Ele disse ainda que agora a Polícia investiga traficante­s em liberdade e também presos, inclusive em prisões federais, envolvidos nos crimes, além de tentar cumprir os sete mandados de prisão ainda em aberto contra os suspeitos de integrar a quadrilha.

Ao todo, foram registrado­s 10.599 casos de roubo de carga no ano passado, uma média de 29 por dia. Neste ano, em janeiro e fevereiro (últimos dados disponívei­s), foram 1.719 casos registrado­s, um aumento de 18% em relação aos números dos dois primeiros meses de 2017.

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SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA Segundo as investigaç­ões, Alan Pinheiro e Danieli Bezerra são suspeitos de liderar grupo que repassava produtos roubados para comércio, camelôs e até vendedores de trens

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