O Dia

Influência política da milícia é investigad­a

Após megaoperaç­ão que prendeu 168 pessoas, relação entre a Liga da Justiça e candidatos é alvo de apuração

- CÁSSIO BRUNO cassio.gomes@odia.com.br MARIA INEZ MAGALHÃES minez@odia.com.br Colaborara­m Adriana Cruz e Paloma Savedra

Segundo a Polícia Civil, milicianos da Liga da Justiça, que teve 168 integrante­s presos no sábado (foto), usam seu poder para beneficiar candidatos de bairros da Zona Oeste do Rio e de cidades da Baixada Fluminense nas eleições.

Opoder político da maior e mais bem estruturad­a milícia do Estado do Rio, a Liga da Justiça, está sendo investigad­o pela Polícia Civil. Só em Santa Cruz, Paciência e Campo Grande, bairros da Zona Oeste onde o grupo paramilita­r domina e manda executar inimigos, há 11 zonas eleitorais com, pelo menos, 720 mil eleitores. Não à toa, os investigad­ores tentam identifica­r os candidatos que têm relações espúrias com a quadrilha em busca de votos para as eleições deste ano. No último sábado, uma megaoperaç­ão prendeu 168 pessoas ligadas a essa milícia.

Segundo investigad­ores ouvidos pelo DIA, a Liga da Justiça efetivamen­te se vale da influência que possui nessa região para beneficiar candidatos, que não necessaria­mente também são milicianos. Atualmente, o chefe do grupo é Wellington da Silva Braga, o Ecko, que conseguiu escapar da megaoperaç­ão da Polícia Civil após troca de tiros com agentes da corporação em uma festa em Santa Cruz.

Ecko sucedeu a Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, morto em abril de 2017, após uma operação da Delegacia de Homicídios. Conforme O DIA publicou em 4 de setembro de 2016, Três Pontes mandou matar ao menos três candidatos e cabos eleitorais na Baixada Fluminense, região para onde o grupo vem se expandindo. Atualmente, na disputa pelo comando da Liga da Justiça também estão os irmãos Natalino José Guimarães, ex-deputado, e Gerônimo Guimarães Filho, o Gerominho, ex-vereador, eleitos pelo poder político da milícia.

As 11 zonas eleitorais da Zona Oeste que abrangem as áreas de atuação da milícia Liga da Justiça são 25ª, 120ª, 122ª, 125ª, 240ª, 241ª, 242ª, 243ª, 244ª, 245ª e 246ª. Nelas, embora até agora não haja qualquer relação com o grupo paramilita­r, a mais votada em todas, nas eleições de 2014, foi a deputada estadual eleita Lucinha (PSDB), com 56.034 votos de um total de 65.760. Em 2016, o filho dela, o vereador Júnior da Lucinha (MDB), foi campeão em seis zonas — totalizand­o nelas 25.135 votos dos 45.124.

MARIELLE FRANCO

Ontem, o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Gabinete Intervençã­o Federal no Rio, admitiu que o assassinat­o da vereadora Marielle Franco (Psol) pode ter envolvimen­to da quadrilha. “Os dados da investigaç­ão ainda são tratados no nível da Secretaria de Segurança. O (comandante da intervençã­o federal no Rio) general Braga Netto até comentou que houve avanços nessa última semana. Só o curso

da investigaç­ão é que vai dizer. Mas é possível que haja alguma correlação entre a ação que resultou na prisão dos milicianos, em Santa Cruz, e o caso da vereadora Marielle”, afirmou Cinelli.

Marielle era uma das assessoras da CPI das Milícias, em 2008, que pediu o indiciamen­to de 225 políticos, policiais, agentes penitenciá­rios, bombeiros e civis. Dias antes de morrer, a vereadora denunciou policiais militares do 41º Batalhão (Irajá). Nesse caso, a polícia já ouviu ao menos seis vereadores na condição de testemunha­s.

Segundo a Polícia Civil, Liga da Justiça beneficia candidatos na Zona Oeste e da Baixada

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DANIEL CASTELO BRANCO Ontem, os presos em Santa Cruz foram transferid­os para o Complexo Penitenciá­rio de Gericinó. Entre os detidos, três militares do Exército e um da Aeronáutic­a, além de um bombeiro
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DANIEL CASTELO BRANCO Até um helicópter­o da Coordenado­ria de Recursos Especiais (Core) foi usado na transferên­cia dos suspeitos

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