O Dia

Atriz já sentiu na pele a dor da intolerânc­ia racial e religiosa

Luellem de Castro é adepta do candomblé como sua personagem em ‘Malhação’

- BÁRBARA SARYNE barbarasar­yne@gmail.com > São Paulo

Aatriz Luellem de Castro, de 22 anos, foi vítima de racismo inúmeras vezes, mas nunca se deixou abalar. Na infância, era chamada de bruxa, macumbeira, feiticeira ou qualquer outro adjetivo associado. A lembrança, que hoje não dói mais, vem à tona sempre que Talíssia, sua personagem em ‘Malhação: Vidas Brasileira­s’, é vítima de intolerânc­ia religiosa.

Coincident­emente, Luellem iniciou no candomblé na mesma época em que fez os testes para fazer parte do elenco da trama. Hoje, mais preparada para contar a história da bolsista, que foi violentada e viu o terreiro que frequenta destruído, ela diz que sente na pele a dor da personagem.

“Dentro do candomblé, a gente ganha muita força para lidar com isso, então muita gente dá apoio, fala que está tudo bem”, diz ela, que entende que a falta de informação, muitas vezes, é o que gera a intolerânc­ia. “O que a gente não conhece, a gente teme, e o que a gente teme, a gente apaga. Eu acho que é interessan­te ouvir, ver o que é. Existem várias festas abertas ao público”, faz o convite.

Na vida, Luellem costuma conversar e explicar para as pessoas como funciona o candomblé, mas quando percebe que não tem jeito, prefere se afastar. No capítulo de sextafeira, inclusive, Talíssia mostrou o quanto é forte, chorou ao ver a destruição da casa de Simone (Dani Ornellas), mas decidiu bater de frente com os responsáve­is pelo crime.

“Eu concordo com a atitude que ela teve, a Talíssia é muito forte. Ela lida com valentia e com doçura, é sábia. Ela é um retrato interessan­te dos nossos adolescent­es de hoje. Ela mostra que nós fazemos parte de uma geração que está aí para definir coisas”, defende.

REPRESENTA­TIVIDADE

Quando o assunto é mudar, Luellem já pensa na representa­tividade. Embora acredite que por ser uma jovem negra e da periferia está ocupando e abrindo espaços que antes pareciam impossívei­s, a atriz pensa no quanto ainda falta para chegar ao “lugar ideal”.

“Estamos a passos lerdos e isso não é uma questão nossa. Existe um mundo de atores negros, cantores, modelos, um mundo de profission­ais que esperam ser chamados para trabalhar porque a gente precisa ser convidado para fazer algo na TV”, critica.

Para ela, a falta de oportunida­de justifica a existência de alguns “movimentos pretos”, o que é incrível, mas não deveria ser necessário. “O fato é que a gente quer estar junto de todo mundo. A nossa luta é pela igualdade, então eu fico muito feliz de fazer parte disso com a Talíssia, que fala firme sobre o que é ser preto, o que é a vida na favela e no candomblé”, explica.

Quando a atriz descobriu que em sua primeira novela seria mãe, ficou assustada. Luellem, que sempre se deu bem com crianças, diz que o tempo foi curto para conquistar a pequena Maria Alice Guedes, que interpreta a Valentina. O que facilitou, no entanto, foi pensar que essa é a realidade de muitas amigas próximas.

“Tenho um grupo do ensino fundamenta­l, e eu e mais outra somos as únicas que ainda não têm filho. Isso é muito comum e acontece o tempo inteiro”, conta ela, feliz de poder abordar o assunto na TV. “A gente não está romantizan­do o que é ser mãe adolescent­e, mas também não está jogando para baixo e dizendo que a vida acabou. A gente precisa falar para os adolescent­es que isso deve ser evitado porque é um impacto gigante”.

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MarÍlia CaBral/gloBo Luellem de Castro no lançamento da novela (alto) e em cenas de ‘Malhação’: personagem é vítima de intolerânc­ia religiosa, mas não se cala diante do preconceit­o
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eSTevaM avellar/gloBo

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