STF torna Aécio réu por crime de corrupção
Em 4 anos, Aécio Neves passou de candidato presidencial com 51 milhões de votos a alvo de ação por corrupção
Primeira Turma do Supremo decidiu ontem por unanimidade pelo recebimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o senador mineiro. Também são réus a irmã de Aécio, Andrea Neves, o primo, Frederico Pacheco de Medeiros, e Mendherson de Souza Lima.
Aécio é acusado de ter recebido R$ 2 milhões de Joesley, da JBS, em troca de favorecimento à empresa
No mundo de negócios lícitos, empréstimos se fazem por transferência bancária LUÍS ROBERTO BARROSO, ministro do STF
Não houve dinheiro público envolvido, ninguém foi lesado nessa operação AÉCIO NEVES, senador pelo PSDB
Osenador do PSDB Marco Rocha deu o tom do temor que tomou conta de integrantes do partido após a decisão do Supremo Tribunal Federal que tornou réu o também senador Aécio Neves. “Do jeito que estão colocando, parece que se Lula está preso, tem que prender todo mundo. Se tem do PT, tem que ter do PSDB também”.
O candidato tucano que conquistou 51 milhões de votos, perdendo por pouco a última eleição presidencial, desceu mais um degrau na sua carreira política ontem. E por um placar acachapante. Os cinco ministros da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, onde o tucano tem poucos amigos, consideraram que o inquérito contra ele tem provas suficientes de prática de corrupção. Com isso, o senador se tornou réu de ação penal na Corte. Quatro dos ministros consideraram que Aécio tentou obstruir a Justiça em ações da Lava Jato e ele vai responder também por esse crime. Com isso, ele se torna o primeiro tucano nessa condição em quatro anos de Operação comandada por Sérgio Moro. As penas máximas dos dois crimes, somadas, chegam a 20 anos.
Aécio é acusado de ter recebido R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS, em troca de favorecer os interesses da empresa em sua atuação parlamentar. O senador admite que recebeu os recursos, mas diz tratarse de um empréstimo “Não houve dinheiro público envolvido, ninguém foi lesado nessa operação”, reafirmou o tucano ontem.
“No mundo de negócios lícitos, empréstimos se fazem por transferência bancária ou no máximo por cheque”, comentou em seu voto o ministro Luís Roberto Barroso. “Nos dias de hoje ninguém sai por aí transportando pela estrada malas de dinheiro”.
Em setembro do ano passado, a mesma Turma do Supremo que tornou Aécio réu ontem o afastou do cargo e ordenou que ele permanecesse em casa à noite. Mas no mês seguinte, os senadores, por 44 votos a 26, devolveram a Aécio o mandato. Uma representação contra ele no Conselho de Ética da Casa também foi rejeitada.
O PSDB, por sua vez, manteve Aécio na presidência do partido, ainda que licenciado, até o fim do ano passado. Ontem, o candidato do partido à presidência, Geraldo Alckmin, disse que a decisão do STF “entristece”, mas que não existia Justiça “verde, amarela, vermelha ou azul”. Ele afirmou ainda que o senador é quem decidirá se continua no partido e se vai se candidatar a algum cargo. “Cabe a ele definir o que fazer e como vai fazer”.
JANOT COMENTA
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, autor da denúncia contra o senador, usou o Twitter para comentar a decisão do STF. “O discurso vazio que tentava invalidar tudo isso virou sal na água”, escreveu.
A defesa tenta invalidar as provas obtidas na ação controlada da Polícia Federal que originou a investigação, apontando “graves irregularidades” no processo.