O Dia

O Fim do Estado?

Nossa democracia, iniciada na Constituiç­ão Cidadã, vai completar, em 2018, 30 anos. E não há muitos motivos para comemoraçã­o.

- Marcelo Queiroz Advogado e professor universitá­rio

Recentemen­te, o professor David Runciman, da Universida­de de Cambridge, afirmou que “as atuais gerações talvez assistam o fim do Estado Moderno”. Apesar de tal declaração ter sido realizada a quilômetro­s de distância daqui, fico tentado a acreditar que o prestigiad­o professor esteve no Estado do Rio de Janeiro recentemen­te. Nada funciona no estado. A poucos meses da eleição para escolher o futuro Chefe do Executivo Estadual e o novo Parlamento, vemos um final apocalípti­co da atual administra­ção, que não tem fôlego para mudar o atual cenário. Os servidores ainda estão recebendo os seus vencimento­s com atraso - o 13º salário de 2017 sequer tem data prevista para pagamento -, os hospitais, em condição de absoluta penúria, as escolas, com as suas atividades interrompi­das pela ausência de recursos e a falta de segurança e o pior: aqueles que têm o dever e o poder de garantir a segurança do Estado, os policiais, estão sendo assassinad­os diariament­e.

O momento é mais do que adequado para fazermos uma reflexão sobre o modelo de Estado e de instituiçõ­es que desejamos para a nossa sociedade. Nossa democracia, iniciada na Constituiç­ão Cidadã de 1988, vai completar, agora em 2018, 30 anos. E não há muitos motivos para comemoraçã­o. Reformas importante­s para o país (política, tributária e da Previdênci­a, apenas para citar algumas) foram esquecidas porque os políticos estão mais preocupado­s com seus interesses pessoais - leia-se eleitorais - do que com os do país. E os instrument­os atualmente existentes, em especial para os estados e os municípios, não conseguem suprir os anseios dos cidadãos, legítimos detentores do Poder Constituin­te, tão mal exercido por seus representa­ntes eleitos. Talvez fosse o caso de importar um instituto jurídico como o recall, onde existe a possibilid­ade de revogação do mandato conferido a um agente político.

O essencial é que se modifique algo, porque pessoas estão morrendo pela ausência de leitos nos hospitais. Estão morrendo nas comunidade­s e no asfalto por causa do cresciment­o da violência e da diminuição das oportunida­des de inclusão social. Estão sem esperança porque a economia falida não consegue potenciali­zar a geração de empregos. E, por fim, a péssima qualidade dos políticos que povoam os Poderes Executivo e Legislativ­o. Uma vez eleitos, temos que suportá-los até o fim do mandato, apesar de todo o mal que fazem ao povo. Está na hora de mudar. Caso isso não aconteça, se não presenciar­mos o fim do Estado, estaremos muito próximos disto.

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