Morro e asfalto em repertório erudito e popular
Fundada em 2013, Camerata Laranjeiras reúne jovens músicos de diferentes classes sociais
Omorro e o asfalto em perfeita harmonia. No repertório, músicas populares e eruditas. É a sinfônica de cordas Camerata Laranjeiras, que une instrumentistas de diferentes classes sociais em apresentações nas ruas e em salas de teatro. “É um projeto de integração sem fronteiras, que reflete a diversidade do Rio”, define Tiago Cosmo, que, em 2013, co-fundou o grupo junto com a alemã Karolin Broosch e a norueguesa Kaja Fjellberg em uma casa em Laranjeiras, bairro que dá nome à orquestra. Desde então, já são mais de 300 performances.
Segundo Tiago Cosmo, a Camerata uniu jovens de classe média que aprenderam a tocar fazendo aulas particulares, com os que entraram em contato com a música em projetos sociais em favelas. “O fato de virem de realidades diferentes poderia ter gerado desconfiança e afastamento. Mas, não, o encontro foi muito bonito. Eles aprendem uns com os outros, se colocam no lugar do outro”, destaca. Além da música, a conexão também rende amizades. “Temos a jovem nascida em Berlim, que mora em um bairro nobre do Rio e que fica amiga da outra, moradora da Grota do Surucucu (comunidade de Niterói), e se encontram. Vão na casa uma da outra, tocam juntas”, acrescenta.
Para o violinista Vitor Virtuoso, morador de Bangu, a orquestra é como uma família, onde todos são amigos, mesmo com realidades tão distintas. “Eu moro longe, mas nunca senti diferença entre nós. Tudo acaba dando certo. Não temos maestro, então é preciso ter uma comunicação boa e forte. O importante é o que temos em comum. Todos nós queríamos tocar vários tipos de música em um grupo sem preconceitos”, comenta.
Além de moradores de várias partes do Rio de Janeiro, a orquestra acolhe também, ocasionalmente, músicos estrangeiros. É o caso da violinista Helena Botolfsen, do conjunto norueguês Oslo Strings, que hoje faz residência artística com a Camerata Laranjeiras. “São todos esforçados e talentosos, e me inspiram muito como música. Vários vêm de um cenário complicado, então é ainda mais importante trabalhar duro, porque a música se torna uma esperança e um sonho”, avalia a estrangeira. Em maio, por sinal, será a vez dos brasileiros desembarcarem na Noruega, onde farão um tour com seis concertos.
A co-fundadora da Camerata, a norueguesa Karolin Broosch, conta que o repertório é variado e vai de Mozart à cantora Anitta, passando por Villa-Lobos e Guerra-Peixe, incluindo também artistas da Noruega. “Nós temos um som bem especial. Hoje em dia os jovens de qualquer lugar gostam das mesmas músicas, então sempre procuramos ver o que os nossos músicos gostam de tocar e misturamos isso com música erudita, isso facilita a integração. É essa energia que queremos mostrar em Oslo”, explica.