O Dia

‘Eu sou filha de Ogum’

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N Quem é Lívia Andrade?

L Ai, que difícil essa pergunta (risos)! Acho que é alguém que batalhou, teve fé e não desistiu. Alguém que muitas vezes teve que impor respeito para chegar onde está!

N Você não é de família rica?

L Não. Eu fui criada pela minha mãe praticamen­te sozinha, porque meu pai faleceu muito cedo. Na época, eu tinha de 3 para 4 anos. Minha mãe sempre teve muito medo de morrer e deixar os dois filhos pequenos no mundo, então ela sempre me criou mostrando a realidade que a gente vive. Ela me preparou para todas as dificuldad­es e me ensinou que eu teria que trabalhar muito e ser uma mulher forte para conseguir sobreviver neste mundo.

N No que ela trabalhava?

L Minha mãe sempre trabalhou em banco. Teve uma época em que ela trabalhou em dois empregos e, mesmo assim, quando tinha esses testes de televisão, ela dava um jeito de me levar, de ir comigo, de me buscar... Ela sempre acompanhou tudo.

N Ela queria que você seguisse uma profissão mais estável?

L Minha mãe sempre quis que estudássem­os. Ser artista não era um sonho meu. Eu sempre estudei, mas eu era magrinha, bonitinha, alta e o pessoal da agência de modelos me chamava para fazer alguns trabalhos. Eu achava legal. Com 13 anos eu fiz um teste no SBT e acabei entrando para um programa chamado ‘Fantasia’. A vida me levou para este caminho. Comecei a achar interessan­te porque eu vi que ali eu trabalhava em uma coisa que eu me divertia e ganhava um dinheiro que era legal para a minha idade. Criei uma independên­cia financeira e acabei conseguind­o o meu primeiro registro em carteira no SBT. A emissora marcou a minha vida porque foi o meu primeiro e único registro em carteira. Aí eu fiz teatro e um programa de rádio na Jovem Pan.

N Você é de agarrar as oportunida­des?

L Sim! Aprendi que você tem que pegar o que aparecer na sua frente, mesmo que não seja exatamente o que você escolheu. Existem coisas que a vida te impõe! Esse negócio de me vitimizar porque fui criada sem pai não aconteceu. Minha mãe nunca ficou parada sofrendo.

N Existe o teste do sofá na TV?

L Existe!

N E você já viu gente se dar bem por causa do teste do

sofá?

L Eu comecei na TV ainda menor de idade, então essas coisas não chegavam até mim. Mas eu via tudo acontecend­o em minha volta e percebia que essas pessoas são descartáve­is. Eu via as pessoas se dando bem, mas era por um curto tempo.

N Mas imagino que você deva ter recebido alguma proposta quando cresceu...

L Quando você faz 17, 18 anos, começa a ver o bicho pegando pro seu lado. Mas eu ficava na defensiva! Já era meio mal criada e tinha uma postura de antipatia. Para mim, era assim que eu tinha que me defender porque se eu não me defendesse, quem ia me defender?

N Qual é o seu objetivo de vida profission­al hoje?

L Eu já consegui uma conquista muito importante que é trabalhar com o Silvio Santos. Tenho que valorizar isso, porque é um horário nobre e eu estou no domingo na televisão há mais de oito anos. Eu nunca fiz projetos, eu nunca tive sonhos. Eu acredito muito no destino e deixo a vida me levar.

N E o destino quis te colocar no palco do ‘Fofocaliza­ndo’...

L Me perguntara­m se eu toparia apresentar o ‘Fofocaliza­ndo’ nas férias. Eu aceitei, embora seja um programa que eu nunca pensei em apresentar. É difícil porque você fala das pessoas o dia inteiro, diariament­e e ao vivo.

N Você leva pedrada por isso?

L Não! Eu aceito a opinião contrária das pessoas. Eu tento não julgar, nem falar besteira. Acho que a rádio me ensinou a ter cuidado com o que se fala! Você tem que falar se colocando no lugar do outro, só que isso é muito difícil quando você está em um ambiente com todo mundo falando. Você pode nem gostar de fofoca, mas se você ficar em um ambiente que está todo mundo fofocando, você acaba ficando na euforia e metendo o pau!

N Você já foi alvo de fofoca?

L Eu acho que não, porque também eu nunca dei motivo pra isso! Às vezes, é claro que as pessoas fantasiam, aumentam e aí jogam no ventilador, mas o tempo mostra quem é quem. E quando eu trabalhava com a sensualida­de, muitas vezes eu fui julgada e o tempo mostrou quem era quem! Quando posei nua, até a minha família fez comentário­s.

N Foi difícil posar nua? L Difícil não foi, mas imagi- na uma pessoa que veio do nada ter dinheiro para comprar carro e apartament­o com apenas 18 anos? E, para mim, estar pelada é a coisa mais tranquila do mundo. O momento das fotos é que foi difícil, porque não era só posar nua. Além da nudez, tinha que fazer cara de sedução. O J.R. Duran fez dois ensaios comigo. No primeiro, o tempo inteiro eu me protegia porque queria aparecer nua, mas não exposta na cara da sociedade! E a revista tentou explorar algo mais. Quando eu vi as fotos, chorei. Então, a gente fez mais um sessão para tentar pegar o que eles queriam na época. Faltava uma foto mais ousada. Graças à ‘Playboy’, com 18 anos eu consegui uma independên­cia financeira que nunca imaginei.

N Você falou que lida muito bem com a nudez. Você anda nua em casa?

L Ando nua! Adoro dormir pelada, não vejo problema nenhum nisso! Adoro ficar sem roupa.

N Você acha que uma Lívia Andrade incomoda muita gente?

L Muita, muita gente! N Mais que um elefante? L Muito mais que um elefante! Principalm­ente quando você trabalha em lugares com as pessoas que fizeram algo a mais para estarem ali. Aí vem você, que não faz esse algo a mais, e acaba se sobressain­do... Eu não sei te explicar, mas isso incomoda demais!

N Qual é o preço da fama?

L Alto. Quem quer privacidad­e paga caro por ela. Eu tenho rosácea e com 32 anos eu tive uma crise absurda, de tomar o corpo inteiro. E eu tive essas crises sabe por quê? Ansiedade, estresse e nervoso. Algumas vezes, a gente paga com a saúde.

N Patrícia Abravanel costuma pegar no seu pé no ‘Jogo dos Pontinhos’. É ensaiado?

L Não! A gente sempre faz como se fosse ao vivo. Não tem cortes.

N Nunca ficou um climão depois?

L Sempre fica (risos)! Mas aí vai de cada um. O Silvio (Santos) me cutuca e eu me saio daquele jeito de não levar o desaforo para casa. As pessoas gostam que eu bata boca com o Silvio.

N Uma das discussões mas acaloradas aconteceu quando a Patrícia falou que seu marido é mais velho.

L O pai e a mãe dela têm a mesma diferença de idade minha e do meu marido. Eu falei isso no ar. Só falei a verdade e foi uma coisa que ela não tinha parado para pensar. Mas a Patrícia nunca fala na maldade. Ela faz o jogo do programa. Quando saímos do palco, ela veio falar comigo, perguntar se eu estava brava. Eu disse que não e ela também disse que não tinha ficado. Fazia parte do jogo.

N Por que que ninguém sabe do seu marido, Lívia?

L Eu já fui casada, já separei e casei de novo! Tenho 35 anos e ninguém nunca me viu saindo em matéria de revista com um monte de homem diferente. Eu não acho isso legal. Foi uma postura que eu adotei para a minha vida. Eu não fico me agarrando em público. Não gosto, não me sinto à vontade...

N Então você não iria para ilha de ‘Caras’?

L Para ter que levar família? Não! Eu acho o nosso lar muito sagrado, acho o relacionam­ento sagrado... Se o meu lado pessoal é mais importante do que a Lívia profission­al é porque tem alguma coisa errada. Eu não me sentiria bem com isso. Quando posei nua, eu vi o quanto minha família sofreu. Para que eu vou colocar as pessoas que eu amo em uma situação dessas? Para serem vítimas de comentário­s maldosos? Minha mãe já sofreu isso pra caramba!

N Você tem vontade de ter filhos?

L Eu gosto muito de criança e acho que para a mulher ser completa é preciso ter um filho!

N Você vai passar o feriado de São Jorge na Capadócia?

L Vou! Esse era um sonho que eu tinha. São Jorge é um santo que eu gosto muito.

N Você é filha de Ogum?

L Eu sou filha de Ogum! São Jorge foi um santo muito presente na minha vida. Eu sempre faço feijoada, eu vou para a igreja, vou à missa da alvorada! Já fui à missa na igreja de Quintino, no Rio... Achei incrível a feijoada do Zeca Pagodinho! Eu adoro uma procissão, adoro uma missa... Eu também já fui várias vezes a Bahia e tem um lugarzinho no interior chamado Nossa Senhora da Boa Morte que faz uma festa religiosa muito bonita, com uma semana inteira de missa, juntado com as senhoras do candomblé da cidade.

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