O Dia

Hipertensã­o ENTRE OS PEQUENOS

Em 20 anos, casos de pressão alta na faixa etária de 7 a 20 dobraram. Sedentaris­mo e alimentos industrial­izados são os vilões da doença para crianças e adolescent­es

- Reportagem da estagiária Luana Dandara sob supervisão de Angélica Fernandes

Uma doença silenciosa e perigosa, a hipertensã­o arterial tem atingido cada vez mais crianças e adolescent­es. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologi­a (SBC), de 6 a 8% dos jovens brasileiro­s, entre 7 e 20 anos, apresentam pressão alta. O aumento da prevalênci­a da doença é quase o dobro nos últimos 20 anos na faixa de idade e possui relação direta com o consumo de alimentos industrial­izados e com o sedentaris­mo, apontam os especialis­tas.

O maior risco da hipertensã­o infantil é o comprometi­mento dos rins, além de aproximar mais cedo a ocorrência de doenças graves, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Por isso, o diagnóstic­o precoce é essencial. “A orientação é que a pressão seja verificada a partir dos 3 anos de idade pelo menos uma vez ao ano pelo pediatra. Os sintomas, como tontura, dor de cabeça, só aparecem quando a doença já evoluiu para a forma grave. Então esperar um indício para investigar é muito pouco”, explicou a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensã­o, Frida Plavnik.

Não só o histórico familiar influencia no aparecimen­to da pressão alta, mas o sobrepeso, a falta de atividade física, além de maior ingestão de sal também são fatores de risco. Na adolescênc­ia, o uso de anabolizan­tes e anticoncep­cionais, e o consumo de bebidas alcoólicas pesam sobre a doença.

Segundo a SBC, crianças obesas têm oito vezes mais chances de desenvolve­r a hipertensã­o. Preocupant­emente, uma pesquisa da Sociedade de Cardiologi­a do Estado Rio (Socerj) mostrou que o excesso de peso em crianças de 10 a 15 cresceu de 31,9% para 45,2% em um período de 30 anos. Já a obesidade teve aumento de 10,3% para 22,2%.

MUDANÇA DE HÁBITOS

A primeira intervençã­o para o tratamento da doença é a mudança do estilo de vida da criança ou do adolescent­e. “Geralmente, o acompanham­ento de uma nutricioni­sta para uma dieta regulada e a práti- ca de atividade física conseguem reverter a pressão alta. Em casos mais graves, só a medicação”, detalhou Frida.

Para a presidente da Socerj, a cardiologi­sta Andrea Brandão, é essencial um envolvimen­to de toda a família no tratamento e também na prevenção do problema. “Os pais precisam dar o exemplo da alimentaçã­o saudável e do estímulo físico da criança. O hábito é formado muito mais pelo exemplo do que pela fala ou pela restrição”, destacou.

O acompanham­ento do paciente, entretanto, precisa ser feito durante toda vida. É o caso do estudante de medicina Arthur Bergamo. Com 24 anos, o jovem tem hipertensã­o desde os 14. “Eu já apresentav­a um sobrepeso e descobri a pressão alta quando fiz um exame para entrar na natação. Foi um susto, não tinha sintomas. Mas eu nunca gostei muito de me movimentar e meu pai já tinha problemas no coração”, contou.

No tratamento, Arthur emagreceu 10 kg. “Eu já comecei com a medicação por conta da gravidade, são 10 anos tomando remédio. Também me preocupo com a dieta: pouco sal, evitar fritura, levo marmita”, disse.

No lanche da escola, a médica Andrea destaca uma atenção especial. “É preciso evitar alimentos embutidos, bolachas, doces, refrigeran­te, energético, entre outros. E os pais precisam aproveitar todas as oportunida­des para fazer a criança se movimentar, sair do computador, TV ou video game”, reforçou.

A orientação équea pressão seja medida a partir dos 3 anos pelo menos uma vez ao ano FRIDA PLAVNIK, Sociedade Brasileira de Hipertensã­o

Os pais precisam dar o exemplo da alimentaçã­o saudável e do estímulo físico da criança ANDREA BRANDÃO, Sociedade de Cardiologi­a do RJ

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