O Dia

O mundo real

- Alexandre Mello Telles de Menezes Vice-pres. do Sind. dos Auditores Fiscais da Receita Estadual

Aprendemos, desde sempre, que a prudência é boa companheir­a. E que por mais “animada” que esteja a procissão, vale a pena tomar cuidado com o andor para que o santo não pague o pato. As notícias recentes “prometem” o aumento de receita do Estado do Rio de Janeiro, com os aplaudidos royalties do petróleo. A esperada melhoria está sendo saudada como saída para pagar dívidas passadas e cobrir gastos correntes da administra­ção que, como se sabe, não vive o melhor dos mundos.

Como lembrou em manifestaç­ão recente na imprensa o professor e auditor fiscal Pedro Gonçalves Diniz Filho, em tempos de crise o melhor é agir com cautela e lembrar que, “no mundo real, a atividade de extração deste recurso acabou levando ao surgimento da famosa expressão ´A maldição do petróleo´”. É aqui que me atenho: mundo real! Olho nele.

Ariano Suassuna muito alertou para a diferença marcante entre o Brasil oficial e o Brasil real. No Rio de Janeiro, onde nos debatemos, essa dicotomia tem adquirido, nos últimos anos, caracterís­tica de ponte a separar o estado que merecemos (ou que queremos) do estado que sobrou para nós, no eterno vermelho, a sonhar com o verde luminoso dos famosos royalties. Ora. No mundo real, sabemos muito bem, essas benesses estão nos números, e não no cofre.

Não é o caso de achar que o diabo é mais feio do que parece ou torcer o nariz para os números. Afinal, já em 2018 são esperados quase R$ 9 bilhões para enfrentar a crise atual. Melhor ainda é a estimativa para décadas futuras, com previsões de receita anual em torno dos R$ 20 bilhões!

O futuro pode até ser promissor. Mas, exatamente por ser futuro, é antes de tudo incerto. Estamos em ano de eleições. Com perspectiv­as, no estado e no país, totalmente nebulosas. Pior que o quadro político, só mesmo o quadro econômico, tanto aqui quanto no todo. O dinheiro é incerto, mas caso ele venha é preciso saber direitinho o que fazer com ele. Mudanças na administra­ção estadual são urgentes e necessária­s. Sem elas, enveredare­mos pelo caminho de mais algumas décadas perdidas.

As sugestões são muitas (proporcion­ais ao tamanho do desgaste que o descaso causou). Para começar, ousamos dizer, novamente repetindo Gonçalves Diniz, que “sem repensar o tamanho do governo, sem modernizar a arrecadaçã­o de tributos de forma a permitir a redução das alíquotas dos impostos estaduais e sem enfrentar as disparidad­es sociais e regionais”, continuare­mos na contramão da história e cada vez mais longe do mundo real.

O dinheiro é incerto, mas, caso ele venha é preciso saber direitinho o que fazer com ele.

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