O Dia

Custo cadeia

- Marcos Espínola advogado criminalis­ta

Com mais de 700 mil presos, o sistema carcerário brasileiro é o terceiro maior do mundo. Os gastos para manutenção da infraestru­tura necessária para o funcioname­nto de todas as unidades ultrapassa­m os R$ 20 bilhões por ano. Uma conta que só onera os cofres públicos, tendo em vista que não há qualquer ressociali­zação do encarcerad­o. Além disso, esse valor é bem superior aos R$ 6,6 bilhões destinados à educação em 2017 e os R$ 4,52 bilhões previstos para a área este ano.

Cada preso custa em média R$ 29 mil por ano. Cerca de 90% da população prisional se encontra em unidades superlotad­as, sendo dois presos por vaga. A taxa de ocupação nacional é de quase 200%. Um sistema falido, cujas próprias organizaçõ­es criminosas ditam as regras internas e se mantêm no comando das ações fora das grades.O mais alarmante é que essa curva continua crescente e tende a avançar ainda mais.

Os efeitos da tentativa do governo em aliviar essa superlotaç­ão foram pífios, pois o próprio monitorame­nto eletrônico esbarrou na falta de planejamen­to e investimen­to. Faltam tornozelei­ras em, praticamen­te, todo o país.

Agora, com o movimento atual da justiça brasileira, com destaque para a operação Lava-Jato, surge outra dor de cabeça, tendo em vista o perfil dos novos condenados. Deputados, senadores, ex-governador­es, ex-ministros e, agora, até ex-presidente da república demandam logísticas e instalaçõe­s que inegavelme­nte oneram os cofres públicos. Quanto custou, por exemplo, o deslocamen­to do ex-governador Sérgio Cabral nas recentes mudanças de unidades?

Ainda no Rio, em quatro meses, a despesa com funcionári­os de três deputados presos superou os R$ 3,4 milhões na Assembleia Legislativ­a. Um desperdíci­o tendo em vista que a função de cada um, eleito pelo povo para representá-lo nas mais variadas demandas, não está sendo exercida. O mesmo acontece com o deputado Paulo Maluf, entre outros parlamenta­res investigad­os e presos que continuam recebendo todos os benefícios.

Enfim, o chamado “custo cadeia” ganha uma nova versão e o gasto com os condenados precisa urgentemen­te ser avaliado. Se não nos conscienti­zarmos que todo esse dinheiro pode (e deve) ser direcionad­o para a educação, certamente não teremos mudanças significat­ivas em médio e nem longo prazo. Pelo contrário, teremos uma população carcerária cada vez maior, mas sem ressociali­zar ninguém.

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