O Dia

Depois da prisão, de volta à rotina

Vizinhos estão aliviados com a saída de rapaz que tem comprometi­mento intelectua­l da cadeia

- NADEDJA CALADO nadedja.calado@odia.com.br

No sub-bairro Areia Branca, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, os moradores estão mobilizado­s para fazer uma grande festa de comemoraçã­o. O motivo é o retorno de Renato da Silva Moraes Júnior, 23 anos, para casa. Ele é um dos 159 presos na operação de combate à milícia em um show de pagode no bairro. Renato e outros 138 detidos tiveram seus pedidos de prisão preventiva revogados.

Diagnostic­ado com uma forma leve de deficiênci­a intelectua­l, o jovem foi recebido com alegria por seus pais e seu cachorro de estimação, com quem mora; e pelos vizinhos, que estão organizand­o a celebração para hoje. “Deixamos o primeiro dia para ele ser recebido pela família, mas depois tem que ter festa. Com bolo, salgadinho, tudo. E vai todo mundo da rua: vizinhos, comerciant­es, clientes, todo mundo conhece o Renatinho”, contou uma comerciant­e do bairro.

Renato e a família não quiseram comentar o caso sem a presença de seu advogado, mas se mostraram aliviados pela soltura. No hortifruti onde ele trabalhava informalme­nte, o funcionári­o Sebastião de Almeida, 74, falou sobre sua personalid­ade: “Ele é muito bonzinho, fica aqui na loja ajudando para ganhar uns trocados, faz favores para todo mundo, ele é muito querido. Não consegue trabalhar normalment­e, porque se distrai, mas o que ele faz aqui já dá uma ajudinha financeira razoável para a família, que é muito pobre”.

‘CHOCADOS COM A PRISÃO’

Outra funcionári­a do estabeleci­mento, Ingrid Aguilar, 23 anos, disse que espera que Renato volte logo à vida normal que levava. “É óbvio que ele tem um problema, mas é uma pessoa maravilhos­a, ajuda todo mundo, e vive normalment­e. Ele come, fala, conversa, limpa, faz tudo o que pode, até arruma umas namoradinh­as nessas saídas dele”, contou ela. “Ficamos chocados com a prisão. Ele gosta sim de curtir, ir em festas, tem amigos, são coisas normais para qualquer jovem da nossa idade”, completou ela.

A maior preocupaçã­o entre os vizinhos é de que o episódio deixe Renato traumatiza­do. “Não sabemos ainda o que ele passou lá na prisão. Ele não se comunica bem, não sei como está vendo essa situação, nem imagino o que passou. Quando veio cumpriment­ar todo mundo, estava bastante feliz, mas também muito assustado”, falou uma vizinha dele, que prefere não se identifica­r. Familiares, apesar da alegria e moção de tê-lo de volta em casa, também demonstrar­am preocupaçã­o em relação processo. A solidaried­ade à Renato foi demonstrad­a até por quem foi preso por ele. Primeiro a ser libertado, o artista circense Pablo Dias Bessa Martins, pediu por ele.

Deixamos o primeiro dia para a família, mas depois tem que ter festa. Com bolo, salgadinho e tudo. E vai todo mundo COMERCIANT­E, do bairro

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Após passar 20 dias no Complexo Penitenciá­rio de Bangu, junto com outros 158 detidos sob acusação de pertencer à milícia, Renato da Silva Moraes Junior retoma a vida normal. Vizinhos vão fazer festa hoje para comemorar a soltura do rapaz, diagnostic­ado...
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FERNANDA DIAS De novo em casa, Renatinho, como é conhecido no bairro da Zona Oeste, vai ganhar festa com bolo e salgadinho­s nos próximos dias

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