O Dia

Democracia para um único lado

Eleições em Conselhos de Corretores terão chapas únicas, já que candidatos de oposição foram barrados

- WILSON AQUINO wilson.aquino@odia.com.br

Um candidato só é proclamado vencedor da eleição após a abertura das urnas. Uma das raras exceções a essa regra democrátic­a acontece em uma autarquia federal. É que nas eleições para os Conselhos Regionais dos Corretores de Imóveis (Crecis) todas as chapas de oposição foram impugnadas.

À exceção do Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Maranhão, estados onde a oposição à atual direção do sistema Cofeci-Creci obtiveram na Justiça o direito de disputar o pleito, em todas as demais unidades da federação a eleição vai ter chapa única.

“A gente só vê esse tipo de coisa em regimes ditatoriai­s”, afirmou o candidato da Chapa 2 (Creci do Futuro), do Creci-RJ, Marcelo Moura. Segundo ele, o Conselho Federal dos Corretores (Cofeci) usou critérios para barrar candidatur­as da oposição que não valeram para indeferir as da situação. “Quando apontamos os erros no registro da situação, o Conselho Federal alegou que não eram passíveis de anular a chapa”, disse Moura.

A Chapa 2 teve a candidatur­a indeferida sob a alegação de que um dos integrante­s do grupo estaria em débito com a anuidade de 2018. Isso contraria a Lei n. 6.530/78, que não condiciona a capacidade eleitoral do corretor ao adimplemen­to de suas anuidades. “Ademais, sequer houve inadimplên­cia já que as anuidades deverão ser pagas até o último dia útil do mês de março, e o pagamento efetuado em 28.03.2018, portanto, dentro prazo legal”, salientou em sua decisão o desembarga­dor Federal Marcos Augusto de Sousa, do TRF da 1ª Região, Brasília.

SEM DEBATE

Em alguns estados, a candidatur­a da oposição foi indeferida porque as fichas de qualificaç­ão estavam incompleta­s. Porém, os dados não preenchido­s por alguns candidatos diziam respeito à inexistênc­ia de informaçõe­s, tais como nome do cônjuge para candidato solteiros e dados comerciais para candidatos autônomos ou desemprega­dos.

“Quando em todo o Brasil as chapas de oposição de um órgão são todas impugnadas por ditas irregulari­dades, percebemos, no cotidiano, o quanto a nossa democracia está sendo corroída”, observa o cientista social Marcelo Biar. Segundo ele, é um enorme prejuízo, para qualquer instituiçã­o, a vedação do contraditó­rio. A negação do debate democrátic­o. “Não podemos afirmar se este é o caso, mas parece que o exemplo de golpear a democracia, baseado em fatos pretensame­nte legais, está ganhando seguidores”, diz Biar.

O Cocefi e os Crecis contam com receitas milionária­s. A previsão orçamentár­ia do Cocefi para este ano é de R$ 46,9 milhões. A do Creci-Rio está estimada em R$ 22 milhões. O maior orçamento fica com o Creci São Paulo: R$ 220 milhões. A arrecadaçã­o vem do pagamento das anuidades dos corretores de imóveis, que este ano é de R$ 606,00. O DIA procurou o Cocefi e o Creci-Rio, mas os Conselhos não se manifestar­am. Corretores de imóveis registrado­s em todo o Brasil. No Rio, são 47 mil. A anuidade varia de R$ 606 (pessoa física) a R$ 2,4 mil (pessoa jurídica). É a receita estimada do CRECI-RJ para 2018. Equivale a 10% da de São Paulo, que é de R$ 220 milhões. A previsão orçamentár­ia do COFECI é de R$ 46,9 milhões.

 ?? FOTO: DANIEL CASTELO BRANCO ?? Marcelo Moura (ao centro, de terno e blusa azul), candidato da Chapa 2, impugnada, e outros corretores que apoiam a oposição
FOTO: DANIEL CASTELO BRANCO Marcelo Moura (ao centro, de terno e blusa azul), candidato da Chapa 2, impugnada, e outros corretores que apoiam a oposição

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil