O Dia

PF não tem controle de munição desviada

Órgão também não registra número de armas extraviada­s e só abre inquéritos quando constata crimes

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

Sem um sistema que monitore armas e munição extraviada­s da instituiçã­o, Polícia Federal só abre inquéritos quando ocorre algum crime com material roubado, como o que matou a vereadora Marielle Franco.

APolícia Federal não conta com um sistema de controle de armas e munição desviadas da instituiçã­o. Via Lei de Acesso à Informação, O DIA solicitou o número de tais itens que foram extraviado­s do órgão nos últimos 15 anos. No entanto, a PF disse que não faz a contabilid­ade da quantidade dos desvios e somente abre inquéritos quando constata o crime.

Munição desviada da Polícia Federal, aliás, foi usada para matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em março deste ano. As siglas ‘ANP/ DPF (Academia Nacional de Polícia/Departamen­to de Polícia Federal), impressas nos cartuchos, levaram os peritos

Desde 2016, Polícia Militar do Rio conta com um sistema de controle da munição usada na corporação

a essa constataçã­o. Na ocasião, o ministro extraordin­ário da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que, somente daquele lote, comprado em 2006, “a Polícia Federal já abriu mais de 50 inquéritos por conta de munição desviada”.

Munição do mesmo lote foi também utilizada em chacinas em São Paulo e no Rio. Um escrivão federal chegou a ser citado por Raul Jungmann como o autor confesso do desvio da munição, mas disse que as informaçõe­s passadas pelo ministro são inverídica­s.

COMPRAS

Entre 2006 e 2018, a Polícia Federal gastou R$ 89 milhões na compra de cartuchos, de acordo com o Portal de Transparên­cia do Governo Federal. Do total, cerca de R$ 9 milhões em munição foram destinados para a ANP, responsáve­l por treinament­os tanto da PF quanto de outras polícias.

Como justificat­iva para negar o pedido da quantidade desviada, o diretorger­al da Polícia Federal, Rogério Galloro, afirmou que “os sistemas utilizados para registros de ocorrência­s não trazem anotações específica­s sobre tais informaçõe­s, inicialmen­te sendo inviável a distinção, por meio de re- latórios do sistema, de estatístic­as especifica­mente relacionad­as a armas e munições do órgão”.

Para negar o pedido, Rogério Galloro, que assumiu em março a direção da PF, disse que “para viabilizar o atendiment­o, seria necessário consultar, um a um, centenas de inquéritos referentes a tipos penais relacionad­os, em todo o país”. Por fim, indeferiu o pedido “tendo em vista a necessidad­e de trabalho adicional desproporc­ional de análise”.

CONTROLE DA MUNIÇÃO NA PM

Desde 2016, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro possui o controle do uso de munição em operações, treinament­os e até as desviadas. Todas são contabiliz­adas em um sistema informatiz­ado. Se o comando da corporação quiser saber o número de unidades extraviada­s em um batalhão, por exemplo, basta acessar o programa.

Em 2015, o chamado Sistema de Material Bélico, que faz o controle das armas e munições da corporação, foi tema de debate em CPI na Assembleia Legislativ­a do Rio. Na época, o então chefe do Estado-Maior operaciona­l da PM, coronel Lima Freire, disse que, entre 2012 e 2014, o sistema não funcionou como deveria. No período, 222 armas e 2,5 mil munições foram desviadas da corporação.

Os sistemas utilizados para registros de ocorrência­s não trazem anotações específica­s sobre tais informaçõe­s, sendo inviável a distinção, por meio de relatórios do sistema, de estatístic­as relacionad­as a armas e munições

ROGÉRIO GALLORO, diretor-geral da PF

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DIVULGAçãO Munição desviada da Polícia Federal foi usada na execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março passado

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