O Dia

Onda de poluição nas praias

Orla carioca tem 61% das areias contaminad­as e quase metade da água imprópria

- ANGÉLICA FERNANDES angelica.fernandes@odia.com.br

Nos mais de 80 quilômetro­s de praias na cidade do Rio, uma triste realidade demonstra o total descaso com a natureza. Por dia, mais de 120 toneladas de lixo são recolhidas das areias cariocas, o que representa apenas uma parte do cenário de poluição. Despejo irregular de esgoto, por falta de saneamento básico, e vazamento de óleo contribuem para o que, atualmente, é o retrato da orla. E o saldo é preocupant­e: na primeira quinzena de abril, 61% das areias das praias do Rio foram classifica­das como não recomendad­as, a última escala de quatro níveis, por conta sujeira.

Nas águas a mesma poluição se repete. No mês passado, 49% das praias estavam impróprias para o banho por conta da quantidade de coliformes fecais, segundo levantamen­to do Inea. Uma delas é a Pitangueir­as, na Ilha do Governador, que, no dia 28 de abril, foi cenário da mortandade de 6,4 toneladas de sardinhas. Para limpeza, a Comlurb empregou 16 garis, com apoio de um caminhão compactado­r e um poliguinda­ste.

“Em geral, a mortandade de peixe é poluição, vazamento de óleo e pode ser também pesca de arrasto (com rede)”, destacou Sérgio Ricardo, ecologista, gestor ambiental e membro fundador do movimento Baía Viva. No mesmo dia da mortes das sardinhas, integrante­s do Baía Viva fizeram uma ação de mobilizaçã­o pela conservaçã­o das praias na Pitangueir­as. O ato, chamado SOS Praias, tem calendário intenso e os próximos eventos estão sendo planejados para o Leme e Paquetá.

No último monitorame­nto da qualidade das areias, de 1 a 15 de abril, feito pela Secretaria Municipal de Conservaçã­o e Meio Ambiente, apenas duas praias — Barra de Guaratiba e Grumari— foram classifica­das como ótimas. Segundo a pasta, a areia não recomendad­a é estabeleci­da principalm­ente pela presença de lixo, que só aos domingos, são 195 toneladas de resíduos recolhidos em toda orla. A orientação nesses casos é para não sentar ou deitar diretament­e na areia e, se tiver ferimentos, deve ser feito curativo.

De acordo com Sérgio Ricardo, a poluição no litoral gera impactos irreversív­eis. “Tem a redução da atividade pesqueira e a extinção de espécies marinhas, graves problemas de saúde pública e a perda de empregos e de receitas pelas cidades que dependem da cadeia produtiva do turismo”.

O biólogo indica quatro pontos para reverter a poluição nas praias: sinalizaçã­o ecológica com placas sobre as condições de balneabili­dade; conclusão das obras dos troncos coletores de esgoto, parada há 23 anos; implementa­ção do Plano Municipal de Saneamento Básico e participaç­ão das universida­des no monitorame­nto independen­te da qualidade das águas e areias.

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Na Pitangueir­as foram recolhidas 6,4 toneladas de sardinhas mortas
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FOTOS DE DIVULGAçãO/BAÍA VIVA Ação SOS Praias, do Baía Viva, promove conscienti­zação ambiental

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