O Dia

CARIOCAS RESGATAM A ARTE DOS VITRAIS

Técnica dos vitralista­s cariocas é elogiada no mundo e se expande nas construçõe­s modernas

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Mosaicos de vidros coloridos ou pintados formando belas imagens ganham espaço em construçõe­s modernas. Rio sediou seminário internacio­nal e Fiocruz criou oficinas para formar técnicos no assunto.

Originada no Oriente por volta do Século 10, a arte dos vitrais — pedaços de vidros coloridos ou pintados, que formam mosaicos com cenas ou personagen­s de alguma história — passa por um processo de resgate no Rio de Janeiro. O município, que já sediou seminário internacio­nal sobre o tema, tem ofertado, por meio de diversas instituiçõ­es, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), oficinas para a formação de técnicos especializ­ados em confecção, conservaçã­o, manutenção e restauro em obras de interesse histórico e cultural espalhadas, sobretudo, em igrejas, palácios e casarões antigos.

O setor também prepara um inventário inédito, para saber com mais exatidão a quantidade total de obras, especialme­nte as raras, que a cidade possui. Muitas delas, como as do Theatro Municipal, igrejas Bom Pastor, na Tijuca, e da Imaculada Conceição, em Botafogo; palácios do Catete e Tiradentes; Catedral Metropolit­ana ; Ilha Fiscal; Confeitari­a Colombo e antiga sede da Manchete, são cultuadas no mundo inteiro, com detalhes artísticos que não são encontrado­s nem na Europa, berço dos vitrais.

De acordo com vitralista­s famosos, como Luidi Nunes, conhecido como o papa do assunto no Brasil, a aplicação de vitrais, antes restrita a igrejas e obras sacras, em projetos contemporâ­neos de arquitetur­as residencia­is e comerciais amplia o horizonte da técnica. Só obras de sua autoria existem em mais de 3 mil metros quadrados na Capital Fluminense, em outros estados e no exterior.

“A formação de mão de obra especializ­ada é fundamenta­l para a preservaçã­o desse segmento”, afirma Luidi, salientand­o que os vitrais passaram a ter nova importânci­a na sociedade nas últimas décadas. “De 20 anos para cá, a noção de preservaçã­o e fomentação dos vitrais passou a fazer parte mais intensamen­te da cidade, cuja quantidade de obras desse tipo e seu valor comercial ainda é incalculáv­el”, atesta o artista. “É um verdadeiro tesouro”.

Luidi é discípulo de Alberto Magini, vitralista italiano que montou os vitrais do Theatro Municipal no início do século 20, e sócio de Luiz Gonçalves na empresa Luidi & Gonçalves, em Bonsucesso, um dos pouco mais de 20 ateliês do país e um dos mais requisitad­os na Europa e EUA. Além dele, outros nomes têm contribuíd­o para a expansão dos vitrais. Como o do arquiteto e urbanista do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Helder Vianna.

“As guerras, a revolução industrial e a crise econômica ocasionara­m muitas perdas na Europa e no Brasil. Hoje, vitrais estão virando modismo e equipes especializ­adas são um desafio”, comentou Helder, que ontem participou do Curso de Conservaçã­o e Restauraçã­o de Madeiras e Vitrais da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele diz que mestres como Luidi e a artista plástica e vitralista Marianne Peretti, parceira de Oscar Niemayer em muitos projetos, garantem a sobrevivên­cia e disseminaç­ão dos vitrais.

Setor prepara inventário inédito para saber com exatidão quantas obras há na cidade

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DANIEL CASTELO BRANCO
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FOTOS: DANIEL CASTELO BRANCO Luidi Nunes, autor de mais de 3 mil painéis de vitrais, em seu ateliê, é referência mundial da técnica
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Vitrais fabricados no Rio de Janeiro são cultuados no mundo todo

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